quarta-feira, 19 de novembro de 2014

vale mais deitar fora este país e fazer outro

é tanta a corrupção, tantos os braços do polvo, tantos os laços e atilhos, que já não há nada que limpe Portugal e o torne um lugar de respeito.
acho que o melhor é deitar fora este país e fazer um novo. de preferência com outro nome.

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

a minha morte de deus

de todas as mortes com que lidei, a que mais me custou foi a morte de deus.
vivi com ele desde pequenino. via-o, ou melhor, imaginava-o, uma espécie de pai, bom quando me portava bem, mau quando me portava mal, nem bom nem mau quando me esquecia dele.
e assim vivi.
um dia, sem mais nem menos,disse-me:
- vais ter que te governar sem mim, estou muito doente. tenho o mal da inexistência.
- como assim, o mal da inexistência?
- eu, este que tu imaginas do fundo dos teus enigmas, não existo. posso ser outra coisa, mas não esse. posso ser tudo o que existe, um tudo de que tu fazes parte também. um tudo que existe desde sempre e jamais acaba, um tudo que se faz, refaz e desfaz e volta a fazer e a refazer eternamente. um tudo que é templo e geómetra de si mesmo.
e, subitamente, deixou cair a cabeça e desfaleceu.
fiquei órfão.
tentei acordá-lo, reanimá-lo, tentei negar a morte dele.
por fim, deixei que o deus de que ele me falou seguisse as suas próprias leis.


e, imerso nas leis desse deus, tive de começar por mim o meu Caminho.







segunda-feira, 3 de novembro de 2014

requiem

"requiem" quer dizer "descanso" e consiste num cerimonial e numa música destinada aos mortos recentes, acabadinhos de morrer ou mortos há poucos dias.
vem da ideia de que morrer é descansar.
infelizmente, é um descanso muito cansativo, como estar de férias mais de três semanas seguidas.
por isso, os mortos ao fim de trinta dias devem ficar fartos de tanto descanso.
digo eu.
e se virmos que se trata de um descanso eterno, a coisa torna-se uma condenação, uma pena perpétua propriamente dita. um inferno.


podia haver uns intervalos de vez em quando. uma espécie de jubilação com direito a fazer uns biscates. sempre era mais animado.
deus, vê lá isso...

sábado, 1 de novembro de 2014

publiciência

a velocidade a que a "ciência" produz artigos que alertam para os prodígios, vantagens e malefícios de muitos produtos, recursos, alimentos e até drogas tem a ver com a desnacionalização da produção científica, o desinvestimento público e o sistema de financiamento privado, ficando as universidades à mercê dos patrocínios de muitos mecenas interesseiros. 
assim sendo, o resultado da investigação é o pretendido pelos financiadores. a investigação deixa de ser ciência e passa a ser publicidade ou contra-publicidade. 
o fenómeno, que é particularmente evidente nas universidades americanas, ameaça estender-se e contaminar as universidades europeias, sobretudo depois da implantação do neoliberalismo e da sua querida "austeridade".

outra vez o leite de vaca

não sei a quem serve a teoria e os estudos "científicos" que tentam comprovar os malefícios do leite de vaca. 
sei que cada vez se vende mais leite de soja. e "laticínios" de soja. 
mas isso, provavelmente, é só uma importuna coincidência. 
o mais provável é que seja uma inovação revolucionária, daquelas a sério, que vai transformar de vez a nossa existência. 
é que o leite de vaca (e, já agora, o de ovelha, de cabra ou de camela) tem sido utilizado pelos nossos antepassados desde o Neolítico. 
convenhamos que o Neolítico é uma civilização fora de moda. antes de mais, porque os neolíticos morriam todos e alguns até tinham fraturas ósseas, sem saberem que era por causa do leite. 
e tanto não sabiam que até se davam ao luxo de o transformar em manteiga, queijo, queijadinhas, requeijão, leite creme e iogurtes. 
a nefasta ideia foi passando de geração em geração sem que os pobres descendentes se dessem conta da razão por que morriam ou por que tinham fraturas ósseas na pós-menopausa. 
mas, felizmente, agora sabemos: as pessoas que bebem leite morrem. 
e era tão fácil, afinal, viver para sempre: era só não beber leite! 
bingo!
infelizmente, para mim a descoberta já vem tarde demais. já bebi muito leite. não sei se ainda vou a tempo de não morrer.