segunda-feira, 27 de maio de 2013

adoções

na adoção em geral ou na coadoção em particular há uma questão fundamental: dizem os adotantes e candidatos que a discussão é em torno dos direitos ou vantagens das crianças adotadas, quer dizer, de alguém que não pode ou não deixam pronunciar-se. logo, não tem nada que ver com os interesses de mais ninguém senão com os de quem quer adotar. tudo o resto são construções retóricas. porque, além do mais, há à partida uma enorme questão: a seleção do adotado em detrimento dos que ficam por adotar.
que dizem eles, os adotantes, aos que deixam sem adoção: és feio? não gosto de ti?
é que no mundo dos pais não se escolhem os filhos. fazem-se.
por isso, não me lixem com essa conversa dos direitos e da felicidade da criança.
seja qual for a constituição do casal adotante, a coadoção é uma leviandade. vincula-se um ser humano em desenvolvimento, uma entidade vitalícia, a uma entidade mais ou menos efémera e transitória a que se chama casal. ou seja, sempre que o casal se desfaz e cada membro adotante refizer a sua vida, a pobre criança vai juntando ao seu currículum vitae mais um pai ou uma mãe.
o que em termos de direitos e felicidade da criança é ótimo e reconfortante. quantos mais pais e mães tiver, melhor para ela.
não me lixem com essa conversa dos direitos e da felicidade da criança. porque o que está em causa não é a felicidade nem os direitos da criança adotada, mas sim a felicidade e os direitos do casal adotante enquanto dure.
e já nem quero falar dos casos em que os pais adotivos, fartos ou não satisfeitos com a aquisição que fizeram, devolvem a criança adotada à proveniência. é claro que isso é no interesse da criança e da sua felicidade.
seja qual for a constituição do casal, a coadoção é como por uma casa ou um carro "em nome dos dois". só que a criança não é uma casa nem um carro. não é uma coisa nem um bem transacionável. nem alienável.

e, depois, uma coisa é discutir os direitos e a proteção das crianças, outra coisa, muito diferente é discutir a igualdade de direitos das maiorias e das minorias, quer dizer, as heterofilias e as homofilias, as heterofobias e as homofobias. não se misture o que não é misturável, nem se use as crianças como armas de arremesso. faça cada qual sua coisa, de acordo com o seu gosto, desejo, inclinação, parcerias ou destino. mas não invoquemos as crianças em vão.

não me lixem.



sobre o insulto

o insulto, quando bem feito, pode ser uma arte e tornar-se um meme. nem todos os insultos são uma arte, nem todos os insultos se tornam meme. e dos que se tornam meme, a maioria passa rapidamente de moda e tornam-se chatos, como sucede com a imensa maioria dos memes em geral. mas alguns têm tal força natural que atingem o ponto de viragem (tipping point). a grande questão é saber se a força do insulto vem do insulto em si ou das particulares caraterísticas do(a) insultado(a). porque a verdade é que quando o(a) insultado(a) não é insultável o insulto não resulta. nem sequer se torna meme.

sexta-feira, 10 de maio de 2013

os vândalos

matam a civilização, a cultura, o bem-estar.
matam à fome, à miséria e à humilhação.
destroem a honra, os sonhos e as certezas.
arrasam tudo por gosto de ver sofrer,
de ver cair, de destruir, de liquidar.
não deixam pedra sobre pedra.
eles são os vândalos do século XXI.
e diante de coisa tão medonha,
as putas que os pariram riem-se
para não chorarem de vergonha.

a Europa que não sabemos ser

olhamos para a Europa como um colonialista mau, que manda em nós e nos oprime. esquecemos que a Europa somos nós que a fizemos. não fomos conquistados nem ocupados. assinámos os tratados. somos parte. por isso, a Europa não é uma entidade terceira. o problema não está no colonialismo europeu, está na nossa mentalidade de povo colonizado. não pensamos em ser um motor de mudança da Europa, estamos à espera que a Europa mude por por si mesma, por obra e graça do Espírito Santo. a questão é que temos de ter líderes à altura do momento. na Europa? claro. quer dizer, em Portugal. 

quinta-feira, 9 de maio de 2013

tragédias e arbitrariedades

todos os dias me espanto ainda com a capacidade que este governo tem de passar por cima de tudo e de todos, de normas e leis, de contratos, costumes e constituições. um governo ao sabor dos caprichos e dos azeites, que não olha a meios para atingir fins - que ninguém, nem ele, sabe quais são. vivemos um momento de tragédia, de arbitrariedade, de insensibilidade absoluta. que morramos, que passemos fome, que não tenhamos com que alimentar e educar os filhos, pouco lhes importa, nem pouco nem muito, nada. somos governados por robôs em forma de gente. por números e por modelos de números, por aprendizes de matemática e de economia. tudo ao jeito da fina finança, dos autores da crise, da crise criminosa que nos puseram em cima, e que pagam não com o dinheiro deles, mas com o nosso. e ainda se atrevem a culpabilizar-nos, a atirar para cima de nós o labéu de termos vivido acima das nossas possibilidades. e o incrível é que há tansos que engolem e aceitam. talvez ainda não tenha chegado a vez deles. ou talvez sejam apenas tansos. ou, quem sabe, simplesmente não sejam pessoas normais.