um vetusto e venerável "lar da terceira idade". vejo-os, os velhos ("idosos", como lhe chamam), entregues, total e passivamente, aos cuidados de terceiros. não vão para a rua, como as pessoas propriamente ditas. não vão às compras, como as pessoas normais, não vão, simplesmente, passear à vontade pelas ruas, como eu. nem sequer estão doentes como os doentes que a gente conhece. estão ali.
não têm amigos, são todos amigos à força. não têm família, a família deles é aquela coisa. hesito em compreender onde estou: numa cadeia, num hospital, num convento de clausura. num manicómio. qualquer das hipóteses serve. a porta está fechada, há um aparato clínico e um ritmo litúrgico. há um claustro central. quem lá está vai à missa, reza o terço, encomenda-se a deus e aos santos, para um agora-nunca-e-sempre e para uma hora cada vez mais próxima. confessam os seus crimes, as suas maleitas, o seu diagnóstico: 70, 75, 80, 93 anos de idade. encolhem os ombros e sorriem. aguardam o dia da execução da sentença. não há recurso.
e, sobretudo, fazem o que lhes mandam.
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