segunda-feira, 30 de setembro de 2013

anda tudo doido...

a propósito do Dia Mundial do Animal, que se celebra a 4 de outubro, dia de São Francisco de Assis (padroeiro da bicharada), realizaram-se já algumas iniciativas de grande relevo e mérito. 
entrava eu há dias num hipermercado, quando uma senhora faz menção de me entregar um saco de plástico vazio, que eu só teria a maçada de encher com um ou dois sacos de ração para os pobres coitados dos bichos. 
por instinto, afastei a coisa simpaticamente e agradeci a proposta, sem a aceitar. 
entro. vejo dois ou três carrinhos de compras estrategicamente colocados para que qualquer distraído, ainda pior que eu, veja que há gente condoída e nobre que contribui para a alimentação dos animais supostamente carenciados. 
entro depois no hipermercado propriamente dito. fileiras de produtos para alimentação animal esperam o meu gesto de os comprar. 
e aí, confesso, afinei. então ele é isso: eu compro e dou, o hipermercado apenas me facilita o encontro com o local e a ocasião de ser solidário com os pobres animais, que, já se vê, são fidalgos, não se contentam com os restos da comida de casa. e, tal como o hipermercado, que se põe de lado na generosidade, apenas vende, passa-se tudo num reino estranho, diria mesmo absurdo. 
ó xente, estamos em crise, há gente a passar fome e outras privações. há gente que não tem que dar aos filhos, há gente que precisa de alimentos normais, comezinhos, vulgares de Lineu, e querem que eu compre comida de pet para dar a cães e a gatos que não conheço de lado nenhum e nem sei se gostam disso? 
anda tudo doido...

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

insónia

o café que me deram
- ou fui eu que o fiz? -
não me deixa dormir
levanto-me e escrevo um poema sem jeito nenhum
apetece-me voar para o Nepal
tal e qual
talvez em pensamento
que é o que eu sou
quando o meu corpo dorme
contra a mente acordada
lá, no Nepal, talvez consiga
adormecer sentidos e sentimentos
diz-se que a meditação é isso
então gostava de não ser ninguém
ou conseguir fingir que não sou ninguém
porque só tem insónia
quem é gente
afinal,
dormir é ir para o Nepal
e não precisar de viajar para o Nepal
quero ir a Katmandu já
e adormecer esta insónia
e se não conseguir
posso ao menos fingir
ou apagar o pensamento
de tudo isso
e o que tem de bom Katmandu
é que nunca fui lá
posso sonhá-la à vontade.

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

fechado no elevador

vejamos: entra no elevador e clica no número do andar para onde pretende ir. 
o elevador sobe normalmente. 
de súbito, o número do andar pretendido é substituído por dois traços: "- -". 
tenta sair. 
a porta está fechada e recusa abrir-se. toca no botão de alarme. ninguém responde. toca continuamente. ninguém responde. volta a tocar repetidamente. e ninguém responde. tenta ligar a alguém que o venha ajudar. tenta também os telefones papacontas do serviço de "apoio ao cliente". o telefone celular não tem rede em nenhum dos dois SIM. 
volta a tocar o alarme o mais tempo possível, a ver se na rua, ali a 30 metros, alguém ouve. tem de sair urgentemente porque tem um compromisso que não espera. ninguém ouve. o ar da cabine parece quente e ralo. bate com força na porta do elevador, talvez o barulho chame alguém. 
passada meia hora, ouve vozes. alguém lhe fala. sabe que já não está sozinho, mas continua fechado, abafado, ansioso. 
descobre que a porta se pode abrir levantando um cravelho com alguma força. não sabe se vai apanhar um choque, mas vale a pena correr o risco. o cravelho levantou-se. conseguiu abrir a porta. verifica que está muito acima de um andar e tem um grande salto para fazer. há um buraco medonho no poço do elevador, por onde pode cair se algo correr mal. e era uma vez. 
põem-lhe uma cadeira por baixo, no andar respetivo, mas ainda faltam 50 cm para lá chegar com os pés. é perigoso, mas tem que ser. as mãos amigas, que desconhecia amigas, amparam-lhe a descida de forma a sair o mais em segurança possível. finalmente sai. corre tudo bem.
sabem, deve haver poucas coisas que se comparem ao sentimento de alívio depois de liberto da situação de sequestro. hoje nem sequer era um dos meus melhores dias, mas agora sinto-me tremendamente feliz.
obrigado, elevador de merda!

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

a ditadura da "ciência" e a escola sem sal

ao longo da sua história multimilenar, andou o homem em busca do sal, que percorria por vezes milhares de quilómetros para chegar ao local de consumo. de barca, de burro, de camelo, o sal aparecia onde a natureza se esqueceu de o por. de tão importante e essencial para a vida humana, para manter o tónus físico e psíquico e para fornecer o indispensável iodo à glândula tiróide e assim impedir o bócio endémico, isto sem falar do seu papel na conservação de alimentos durante os meses de inatividade rústica, o sal serviu até de recompensa pelos serviços prestados aos reis, príncipes e impérios, de onde derivou diretamente a palavra "salário". tem, além disso, o nosso sangue a mesma concentração de sal que a água do mar. coisa pouca. nada disso tem importância, nada disso conta. os cérebros "científicos" que dirigem as instituições de vigilância e preservação da saúde pública é que sabem. sabemos agora que tiveram a ideia peregrina de privar de sal as nossas crianças de escola. com ou sem idênticos resultados, vão ter de compensar essa falta com medicamentos mais tarde ou mais cedo. vão fazer crianças asténicas, apáticas, abúlicas. vão piorar o rendimento escolar. são uns crânios.
podiam regular os teores máximos de sal na indústria e no comércio "alimentar". podiam. mas preferem castigar as nossas crianças em idade escolar. que deus lhes perdoe, que eu não tenho capacidade para tanto.