era uma casa em ruínas, num belo lugar da cidade.
as últimas habitantes, duas tias solteironas, já tinham morrido há que tempos.
foi saqueada e ocupada por imigrantes ilegais, a quem tiveram que mover ações de despejo, antes que, ainda por cima, viessem alegar usucapião.
a ruína sucumbia lentamente ao avanço das ervas, árvores, arbustos e bichos.
era já mais um matagal do que uma casa propriamente dita.
chegou a hora do adeus, de decretar o fim, de assinar a certidão formal de um óbito recesso.
mais de vinte herdeiros foram dividir entre si os insignificantes despojos, a ridícula "herança".
foi-se a casa e a ruína, ficaram as memórias de quem as tem. e eu tenho muitas.
foi-se a casa e a ruína, ficaram as memórias de quem as tem. e eu tenho muitas.
essa é a verdadeira herança, a que não pode vender-se nem apagar-se por um qualquer novo empreendimento em seu lugar.
adeus, casa do tio cónego!
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a casa ficava meio escondida num declive junto à estrada onde, naquele tempo, o elétrico subia numa chiadeira cansada. um belo dia, no elétrico viajavam o meu tio e um amigo, engenheiro, pessoa importante da cidade. diz o amigo para o meu tio:
- ó senhor cónego, a sua casa está mesmo escondida, quem vai de elétrico mal lhe vê o cume...
e o meu tio, sem pestanejar:
- ó senhor engenheiro, e quem vai de elétrico tem muita sorte, porque quem vai a pé nem o cu-me vê...
- ó senhor cónego, a sua casa está mesmo escondida, quem vai de elétrico mal lhe vê o cume...
e o meu tio, sem pestanejar:
- ó senhor engenheiro, e quem vai de elétrico tem muita sorte, porque quem vai a pé nem o cu-me vê...
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