um velho fica caro e tanto mais caro quanto mais ativo. e tanto mais perigoso quanto mais se mexe. ele sabe demais e saber demais sai caro. se ao menos está entrevado, acamado, paralisado, entubado, pronto, é só tomar conta dele, ir lá de vez em quando ver se ainda não morreu, se o saco do chichi ainda não encheu, se a agulha do soro não saiu. enquanto lá está está a pagar, deixa a sua pensãozinha no lar e tudo bem.
o pior é se mexe, se fala, se escreve, se perturba, se não está em lar nenhum senão no seu, quer dizer, na sua casa. aí a coisa complica-se. ele recebe a sua pensão e gasta-a a seu belprazer - coisa horrorosa!
então há que dobrar-lhe a espinha, fazê-lo sentir o peso do cabelo gris, roubá-lo, chamar-lhe parasita e coisas piores. há que submetê-lo ao elder-jacking, arrancá-lo dos seus cuidados e sacar-lhe tudo. deixá-lo estatelado no chão, nu.
e andam a medicina, a saúde pública, os nutricionistas, os vendedores de banha da cobra e toda essa legião de profetas da imortalidade a gastar o seu latim para isto.
morte, mas é, aos velhos e a quem os apoiar!
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