sou um católico nostálgico. mesmo que Deus esteja morto ou
em doença terminal, mesmo que seja um órfão de um pai que simplesmente nunca
existiu, não posso por de lado a educação, a narrativa e os princípios que
tive. não posso sequer ignorar que esse meu deus, terminal ou até morto, tem neste mundo um
representante simbólico vivo. um homem como eu, mas simbolicamente muito mais
que eu. outros acreditarão em pais simbólicos de outra natureza. outros decidiram matar todos os pais, reais ou simbólicos, porque ainda não são crescidos o suficiente para serem pais de verdade. quer dizer, ainda não são suficientemente mestres para poderem matar o seu mestre dentro de si. e por isso odeiam tudo o que lhes cheire a um pai. eu não.
seja esse pai real ou simbólico, morto ou em doença terminal, estou órfão.
está tudo em crise. pois está. e, por isso mesmo, esse pai
faz cá imensa falta.
eu sou assim, e sinto-me assim. mas ao menos não ando, como
muitos que por aí vejo, numa luta de vida ou de morte contra um deus que não
existe.
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