terça-feira, 26 de novembro de 2013

o peixinho vermelho

o peixinho vermelho está ali. quando me vê, agita-se, vem à tona de água e abre a boca. falo com ele, atendo-o como gostava de ser atendido num serviço público, pego em meia dúzia de folhinhas malcheirosas, daqueles de peixe vermelho comer, deposito-as carinhosamente na água, e pronto. fica ele feliz, recebeu a sua pensão de alimentos, e vive sem mais nem menos, o perfeito parasita, o mamão do Estado-providência. 
só depois é que dou conta que o pobre do peixe não pode deixar de ser parasita. 
fui eu, o deus dele, que o coloquei naquele aquário. 
o pobre coitadinho não sabe transformar-se em empresário de sucesso e sobreviver sozinho, explorando os outros de uma maneira neoliberal correta.
não me atrevo a mandá-lo ir trabalhar, fazer-se á vida, ou emigrar. era indecente. e eu ainda passava, justamente, por ser um refinado psicopata.

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