domingo, 29 de dezembro de 2013

passagem de ano

e pronto
lá se vai mais um ano
prepara-se a festa
compra-se o champanhe
mata-se o ano velho
acolhe-se o ano novo
chim-pum-pum!
chim-pum-pum!
que estranho é este prazer
de dizer adeus ao tempo...

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

o ateu místico

sabem o que é um ateu místico?
nem eu
mas é o que eu sou
um ateu místico

descrente em deus pai todo-poderoso
criador do céu e da terra
e em seu profeta maior
e em seus profetas menores

descrente creio
ó deus das leis
do universo

leis que eu posso compreender
mas que estão lá por estar
sem esforço
nem investigação científica,
antes que alguém pensasse em leis.

o universo é as leis que procuramos no Universo
nem sequer são leis
porque não podem ser desobedecidas.
no universo não há crime
porque não existe transgressão,
porque no universo
as coisas são o que são
e não podem deixar de ser.

o Universo é o grande criador
e também o grande destruidor
e destruindo cria.



quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

a "confusão linguística" dos professores

agora há aqueles professores que não aprenderam, não querem aprender nem querem ensinar a nova ortografia. e que se queixam da "confusão linguística" (será ortográfica?) que eles próprios criaram e alimentam.
mas quem são eles? não são pagos para aplicar as normas e os programas? ou são pagos para não concordar com eles? 
se a moda pega, não ensinam matemática porque não concordam, não ensinam história porque não concordam, não ensinam nada porque não concordam.
mas quem são eles? olha se um instrutor de condução automóvel se recusa a aprender e a ensinar as novas regras de trânsito porque não concorda com elas. olha se um polícia se recusa a prender alguém porque não concorda com a lei...
há professores assim. mas também há quem os deixe ser assim. até quando? 

meus senhores, só existe uma "confusão linguística": a da vossa arrogância. 
já agora, se não concordam, sejam honestos. demitam-se.

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

homem livre, digno e honesto

aquilo que se entende por homem livre, digno e honesto parece tão complicado e excecional que se calhar é melhor ser só um homem. e se fôssemos todos livres, dignos e honestos não teríamos necessidade de venerar aqueles que achamos que o são ou foram. 
é que dá muito trabalho ser livre, digno e honesto e é preciso ter tempo para isso. 
às vezes é preciso disposição para ser livre, digno e honesto. é preciso disposição para ser perseguido e preso e até para ser morto - talvez até mais do que para ser um crápula, assassino, mafioso e desonesto. 
e nós, os que apreciamos os homens livres, dignos e honestos, somos apenas homens. sem vagar para sermos outra coisa.
mas, seja como for, também só nos costumam chamar homens livres, dignos e honestos quando estamos presos ou morremos. 
pois é, vale mais estar vivo e ser só um homem. 
digo eu, para não querer ser mais do que aquilo que sou.

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

a camionete de motor por dentro

naquele tempo, anos 50, havia umas camionetas de passageiros que tinham o motor por fora. eram as Berliet. 
tinham duas portas: a da frente dava para um corredor com bancos de dois passageiros, de um lado e de outro de um corredor central, perfazendo ao todo uns 20 lugares; a porta de trás dava para o chamado "galinheiro", com duas filas de bancos travessos, virados um para o outro, separados por um corredor também atravessado. 
os bancos da primeira parte da camioneta não tinham comunicação com os bancos do "galinheiro". o "galinheiro" levaria ao todo dez passageiros. ou seja, a geringonça tinha, no máximo, capacidade para trinta pessoas. 
aquelas camionetas, além de pessoas, levavam dentro gigas com ovos e legumes, balaios com galinhas, coelhos, patos e perus, leitões e porcos ao colo das donas, gaiolas de pássaros, enfim, sem falar na carga mais estapafúrdia que levavam no tejadilho - coisa que ainda se hoje se vê muito nos documentários indianos.
e os cheiros eram tantos, tão vários e fortes, que a gente acabava por nem reparar em nenhum.
até àquele dia, era esse o modelo de "camioneta de carreira". chamavam-lhe "chocolateira" ou "chicolateira" porque fazia mais barulho do que andava. mas, enfim, acabava por levar a coisa a bom porto. 
mas os tempos estavam de mudança. 
os meus pais e, à época, os três filhos foram à Romaria Grande de São Torcato.
em Guimarães, para quem não sabe. 
uma enchente! tão grande, que mal cabia uma pulga entre uma pessoa e outra. nunca mais vi semelhante enchente em banda nenhuma, ou, pelo menos, nunca mais nenhuma enchente me pareceu tão cheia. 
de súbito, damos pela falta do pequeno terceiro elemento da fratria. onde estará o menino, que desgraça, ainda não há telemóveis, não há polícia nem guarda, não há quem dê ajuda, só multidão, seguida de multidão, seguida de multidão. se gritássemos ninguém ouvia, tal era o barulho da festa, dos altifalantes e de toda aquela confusão. 
já sem grande esperança, de coração destroçado, partimos em busca do menino, um rapazinho dos seus quatro anos. 
e depois de muito procurar no meio daquele indizível caos, tivemos sorte. um milagre - ainda que, eventualmente, só existam milagres quando o desespero se apaga de repente.
eis que a visão se revela: estava ali, encantado, em êxtase, sem nenhuma noção do susto de morte que nos tinha pregado, nem do risco em que se tinha metido. 
- então, menino, saiste da nossa beira e nem disseste nada? não voltes a fazer isso! 
na sua candura, vira-se para nós e diz com indizível satisfação: 
- está ali uma camionete de motor por dentro!












eram os novos tempos.









quarta-feira, 27 de novembro de 2013

os dois governos

temos dois governos, um negro como breu, outro cor-de-rosa como a Hellow Kitty. 
o cor-de-rosa enveredou pelo discurso gasto, anacrónico, bafiento e perverso dos feitos quatrocento-quinhentistas. agora é que vai ser, diz o primeiro-ministro do governo-cor-de-rosa: os nossos exportadores, quais navegantes de há quinhentos anos, vão por esse mundo fora, sem saberem se vão encontrar no fim um bom negocio. 
mas vão, de peito feito e coiso. às cegas. à aventura, comme il fault
má e infeliz comparação. como se sabe, o investimento quinhentista saldou-se num desastre económico, financeiro, demográfico e militar. 
a isto, o primeiro-ministro do governo negro como breu nada diz. porque, se calhar, não sabe como responder. 
e estes dois governos juntam-se de vez em quando para votarem nos disparates um do outro.

terça-feira, 26 de novembro de 2013

o peixinho vermelho

o peixinho vermelho está ali. quando me vê, agita-se, vem à tona de água e abre a boca. falo com ele, atendo-o como gostava de ser atendido num serviço público, pego em meia dúzia de folhinhas malcheirosas, daqueles de peixe vermelho comer, deposito-as carinhosamente na água, e pronto. fica ele feliz, recebeu a sua pensão de alimentos, e vive sem mais nem menos, o perfeito parasita, o mamão do Estado-providência. 
só depois é que dou conta que o pobre do peixe não pode deixar de ser parasita. 
fui eu, o deus dele, que o coloquei naquele aquário. 
o pobre coitadinho não sabe transformar-se em empresário de sucesso e sobreviver sozinho, explorando os outros de uma maneira neoliberal correta.
não me atrevo a mandá-lo ir trabalhar, fazer-se á vida, ou emigrar. era indecente. e eu ainda passava, justamente, por ser um refinado psicopata.

os mais desfavorecidos

estou cansado da conversa dos mais desfavorecidos, esse paleio assistencialista de meia-tijela, essa desculpa esfarrapada de quem não consegue melhor que roubar e nada faz para que a economia se desenvola e apague essa mancha dos "mais desfavorecidos".
treta ignóbil, que sai do bolso dos menos-desfavorecidos-menos-favorecidos, que, sem terem nada a ver com a crise, pagam tudo: a crise causada pelos "de cima" e a crise sofrida pelos "de baixo". 
e, no fim, saltam eles tambem, os menos-desfavorecidos-menos-favorecidos, para o rol dos mais desfavorecidos. e aí já não haverá a quem roubar porque aos grandes trutas não se rouba.
deus é realmente grande demais para ver estas coisas. e, assim, viva o neoliberalismo idiota, ou lá que é. 
e quando já só houver "mais desfavorecidos", não se queixem. é só o fim da linha. saiam e vão a pé. mas não tropecem em vocês mesmos.

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

polícias e polícias

está tudo doido ou faz-se. a questão da manifestação dos polícias em frente à Assembleia da República não tem outra leitura senão a de que foi evitado um banho de sangue gravíssimo por uma questão minorca: subir ou não subir a escadaria de São Bento.
o corpo de segurança fez a leitura correta. não houve agressões, não houve provocações, não houve violência. foi uma manifestação exemplarmente pacífica. 
caiu um comandante, substituído por outro, que, justamente no discurso de tomada de posse, fez saber que é preciso agir de acordo com a avaliação do que se passa e do seu contexto e resolver a questão do descontentamento e desmoralização das forças policiais. 
o poder não está habituado a ter a polícia contra si. 
e quase me apetece ter desejado que tivesse acontecido o banho de sangue. hoje o governo estaria numa situação insustentável. e era muito bem feito. 
assim, faz de conta que tem algum controle sobre a polícia, quando acaba justamente de o ter perdido. realmente, está tudo doido. ou faz-se.


PS: caberá perguntar, face à sentença recente de um tribunal sobre um polícia que matou em serviço um criminoso em fuga, o que teria acontecido se houvesse um banho de sangue: iriam os polícias das forças de segurança todos presos?
ficaríamos nós sem polícias de uma vez por todas?

domingo, 24 de novembro de 2013

o "homem da Europa de Leste"

entrou no restaurante. lançou uma granada. sequestrou. matou e feriu. 
a coisa vai azedar. só não vê quem não quer.
o homenzinho era da "Europa de Leste"? pode ser. mas vivia em Portugal, com a crise portuguesa, com o desemprego português, com o desespero português, com os eventuais e muito portugueses salários em atraso. não estou a desculpá-lo, até porque já morreu e pronto. nem a ele nem a nenhum dos que a seguir vierem formar a inevitável lista do desespero.
da "Europa de Leste" ou de Portugal ou de outro lugar qualquer. a crise não escolhe etnias. e a revolta também não. não estou a desculpá-los. estou a culpar aqueles que não têm peso nem medida nas decisões que tomam ou que lhes mandam tomar, aqueles que não tomam em conta a humanidade e a dignidade das pessoas. 
aqueles para quem as pessoas de todas as idades são lixo. menos eles próprios, claro.
esses também não têm desculpa.

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

portugueses

somos uma merda
somos os maiores
somos uma merda
somos os maiores
(moeda ao ar: somos uma merda)
somos pequeninos
somos enormes
somos pequeninos
somos enormes
(moeda ao ar: somos enormes)
não há meio de sermos
simplesmente o que somos
e muito é
se o formos.

terça-feira, 19 de novembro de 2013

cousas da vida.

o velhote era um bocado espalhafatoso. gostava de fazer barulho, falar alto no café, por o telemóvel a tocar uma música detestável, das de fugir para não ter que a gramar. 
vi-o ainda há dias, junto com os mesmos amigos de sempre, e sempre nos mesmos preparos. 
deixou de aparecer.
apesar de toda a confusão que provocava nas mesas mais próximas, parece que falta qualquer coisa ali. apagou-se uma luz. era uma luz única. não é possível por uma igual no lugar daquela. 
é assim a vida. aparecer, aparecer, aparecer e desaparecer. 
"já não vem mais? é p'a sempre?" - diria o Má' (Mário) do hospício, que também já deixou de aparecer...

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

da eutanásia

tenho algumas dúvidas sobre a questão da eutanásia. na verdade, oiço muita gente falar sobre eutanásia antes de estar na situação de a querer ou não aplicar. 
já não tenho grande informação das pessoas propriamente ditas que estão na situação de doença terminal. 
talvez estejamos a pensar como pais de crianças, como capatazes de uma estrutura produtiva ou como pessoas que simplesmente têm medo da doença e da morte. 
uma coisa é o prolongamento artificial e porventura desumano de uma vida inviável e sem sujeito. outra coisa bem diferente é o comboio de situações que lhe costumam atrelar. 
se penso nisso, arrepio-me. não consigo a frieza de ver só o caso dos outros. tenho que me colocar na situação. e quando me coloco na situação tendo a deixar a decisão para a natureza. 
ela é a grande decisora, o grande tribunal, a suprema comissão de ética.

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

os filhos pródigos

sempre achei a estória do filho pródigo um bocado estranha, contrária à lógica e ao sentido comum de justiça.
ainda outro dia a minha mais nova me chamava a atenção para a razão que, do seu ponto de vista, assistia aos protestos veementes dos filhos cumpridores, previsíveis, assíduos e bem comportados, perante a festa que o pai fazia ao regresso do filho transviado.
confesso o embaraço que senti perante a observação. eu próprio não entendera a lógica da parábola na idade dela, nem muito depois. achava simplesmente que era uma lógica própria dos filhos de deus feitos homens e pronto. mas hoje sei que ela contém um sentido daqueles que faz outro sentido. um sentido de quem tem coração e sentimentos.
dos meus pacientes, há uns que há meses, para não dizer mais de um ano, deixaram de dar sinais de vida. pensava que os tinha perdido, por qualquer razão, minha ou de circunstâncias da vida. desses, vieram hoje três. não posso dizer que regressaram porque, afinal, nunca tinham saído. vieram, simplesmente, porque voltaram a precisar de mim.
e com a alegria que senti por vê-los de novo, lembrei-me da velha parábola do filho pródigo e do sentido que ela faz.

como descobrir um contrista

O verdadeiro contrista é uma pessoa entendida, que domina bem a língua e os meandros da ortografia, da morfologia, da sintaxe, da ortoépia e da prosódia. Por isso, os seus argumentos são sempre irrefutáveis e definitivos. Conhece o Acordo Ortográfico como ninguém, sobretudo aquela parte do Acordo que simplesmente não existe. Ele é o dono da língua e, portanto, ele é que sabe. Torna-se, pois, uma pessoa a evitar custe o que custar, para não sermos apanhados em falso. Assim sendo, dei-me ao trabalho de elaborar uns critérios que ajudam a identificar o perigo e a fugir de imediato a sete pés.

Aqui vão eles.

O verdadeiro contrista:

1º - escreve “Zézinho”, “avózinha” e "sózinho", em lugar de Zezinho, avozinha e sozinho; 
2º - escreve “afim de” em vez de a fim de e “ter a haver” em vez de ter a ver (e a inversa); escreve “à” em vez de há e “houve” em vez de ouve - e vice-versa - ; diz que metrologia é o mesmo que meteorologia mal escrita e escreve “mau estar” em vez de mal-estar.
3º - escreve "fala-se" em vez de falasse e "escrevesse" em vez de escreve-se - e inversamente - e nem sabe qual é a diferença;
4º - pronuncia “sobre”, que quer dizer "por cima", em vez de sob, que quer dizer "por baixo"; 
5º - diz que “anda um cagado de fato na praia”, quando, de facto, anda um cágado na praia; 
6º - gosta de outras frases absurdas como esta, ou ainda piores; 
7º - pensa que os brasileiros são todos ignorantes, atrasados e preguiçosos e que os portugueses são todos sábios, evoluídos e uns moiros de trabalho; 
8º - acha que português só há um, o das Avenidas Novas e mais nenhum; 
9º - ignora a existência do português da Galiza ou acha que o galego é uma língua à parte; 
10º - e por falar nisso, confunde “aparte” com à parte.
11º - usa os acentos para abrir ou fechar vogais, em vez de os usar para o seu fim normal: a indicação da sílaba tónica;
12º - acredita que em Cabo Verde, Guiné, São Tomé e Príncipe, Angola, Moçambique e Timor Leste, ao contrário do Brasil, só se fala português e do bom - o das Avenidas Novas;
13º - irrita-se por um natural do Egito ser egípcio, mas não diz nada sobre um habitante de Chipre ser cipriota, ou um habitante da Hungria ser húngaro, ou um habitante de Ceilão ser singalês, ou um habitante de Madagáscar ser malgaxe, ou um habitante do Mónaco ser monegasco;
14º - acha que a velha ortografia foi comunicada aos portugueses por Deus Pai Todo-poderoso, num dia luminoso e quente de primavera;
15º - é claro, confunde ortografia (norma escrita) com ortoépia (norma da fala). mas isso já é demais para ele. até acha que quem adotar a nova ortografia passará a falar "brasileiro", mas os brasileiros que passaram a usar a nova ortografia, esses não passaram a falar "português" - o que é estranho;
16º - também há o contrista que "não está bem esclarecido", nem nunca estará, porque também não procura estar, e por isso "não ri nem chora", e continua na mesma;
17º - quando é apanhado, e independentemente das razões, o contrista continua contra e pronto. porque é baril e coiso.
18º - quando acha que está em maioria, queixa-se da ditadura da minoria; e quando acha que está em minoria queixa-se da ditadura da maioria.
19º - acredita  que a nova ortografia é uma "negociata" das grandes editoras, mas esquece que o contrismo é a "negociata" de algumas pequenas editoras com medo da concorrência do Brasil e de alguns tradutores com medo que lhe comam o bolo. Fora isso, acha que o país está em crise económica e financeira e todos os negócios são bem-vindas, tanto mais quanto maiores forem.
20º - acha-se no direito de não concordar com o Acordo Ortográfico, coisa de Academias e política da Língua, mas não acha estranho que ninguém pedisse a concordância de ninguém com as normas ortográficas anteriores.
21º - queixa-se de ser obrigado a aprender e a ensinar a nova ortografia, mas nunca se queixou de ser obrigado a aprender e a ensinar a ortografia antiga.

É um cromo...


Cuidado. Eles andam aí!

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

a nova ortografia

A nova ortografia é leve, suave e doce. É à prova de xenofobia, arrogância e chauvinismo. Não contém "c" e "p" mudos, nem outros aditivos. É agradável ao paladar. E sobretudo não morde. 

Gostava de esclarecer que não tenho que me pronunciar sobre a nova ortografia porque também não tive que me pronunciar sobre a velha; que não me sinto constrangido a escrever da nova maneira, porque também não me sentia constrangido a escrever da maneira antiga; que não tive nada a ver nem fui consultado sobre a nova ortografia, mas também não tive nada a ver nem fui consultado sobre a ortografia anterior. As coisas são o que são. Quem está de fora racha lenha. Mas lá que gosto mais da ortografia nova, isso gosto.

E sobretudo, não tenho que ser a favor nem contra. Seria demasiada vaidade e arrogância. Escrevo nela, simplesmente.

Mas se há por aí quem não goste, se há por aí quem se ache entendido, mais que os entendidos, se há por aí quem se sinta superior aos outros falantes e escreventes, pois que façam o favor de ser antiquados e chauvinistas. Mas que não me chateiem.

Não há nenhum ódio à nova ortografia. Isso é demais para os contras. A elaboração "teórica" do "exército dos 6000" não chega lá. Eles primeiro sentem e só depois argumentam "à la carte", consoante o que sentem. O que existe é um ódio ao Acordo, por ter sido feito com países que, ao que eles na sua soberba pensam, "falam mais mal Português do que nós". Ou seja, "eles que escrevam como nós e é se querem". E nós que fiquemos sozinhos, dialetizados, perdidos na hegemonia pacóvia do Inglês.
Eles são muito inteligentes.

Ah, já me esquecia, uma coisa de que os contras se queixam é de serem obrigados a aprender e a ensinar a nova ortografia. Ó xente, é verdade. Mas até agora eram obrigados a aprender e a ensinar a ortografia antiga e nenhum deles se queixou.

..............................................................

PS: até há pouco, um dos grandes "argumentos" dos contras era o de serem a maioria (inteligente, já se vê) e a maioria é que manda e pronto. Descobriram agora que são minoritários, que não passam, afinal, de uma minoria étnica barulhenta e p'cebe. Que chatice. Agora, a nova ortografia é uma imposição inadmissível da maioria (burra, é claro)!
Será que ainda alguém tem pachorra para os aturar?

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

falar sozinho

falava, falava, falava. gesticulava. acendia um cigarro acabadinho de fazer à mão. e falava, falava, gesticulava e tudo, como numa conversa real, objetiva, do quotidiano. deveria ter os seus vinte e poucos, não tinha mais. o caso parecia sério. 
de sobreaviso, procuro à socapa indícios de um telemóvel. conheci o caso de um que usava o telemóvel para que ninguém dissese que falava sozinho. mas nada. telemóvel nenhum. 
continuava a falar, sem se importar com o efeito que causava nos circunstantes. 
eu creio que ele falava com alguém. só podia estar a falar com alguém. e o caso era manifestamente sério. compreendo. às vezes, a pessoa com quem temos de falar com urgência e seriedade somos nós próprios. sejamos nós mentalmente sãos ou não.

sábado, 2 de novembro de 2013

filhos de deus

o Papa Francisco vai fazer uma sondagem entre os crentes sobre sexo, homossexualidade, aborto e divórcio. 
a coisa promete. é que se deus não tem nem pode ter opinião definida sobre um assunto de que ele, criador, é o primeiro e último responsável, como hão de tê-la, clara, definida e uníssona, as primeiras e últimas vítimas de tamanha confusão criacional? 
eu, por mim, não sei se vou ser inquirido ou se já me expulsaram do partido. mas, se for inquirido, sempre direi que talvez não valha a pena o representante de deus preocupar-se com essas coisas de sexo. por definição, o que deus fez está bem feito. deixe sua santidade funcionar as coisas como elas são. 
sei que vossa santidade já "mandou umas bocas" sobre isso, que deixaram vermelhos muitos cardeais, bispos e presbíteros. "a Igreja ocupa-se demasiado com sexo, homossexualidade, aborto e contraceção". é verdade, ocupa. somos todos "filhos de deus", não somos? e qual é o pai que tem todos os filhos iguais?

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

privacidade

ela diz-se vítima de violência doméstica, tentativa de violação e mais não sei quantas dessas coisas politicamente corretas e oportunas para uma mulher se queixar do [ex-] marido. 
ele diz que a senhora, cheia de vuiton, botox e silicone, confunde a casa com uma garrafeira e não vê onde deita os pés. 
nascem processos a uma velocidade vertiginosa. cuido que nem haja tribunais suficientes no país para julgar tanta irrelevância. 
ah, e ela pede respeito pela sua privacidade.
claro, se estivessem calados, toda a gente os respeitava. assim é difícil.

sábado, 26 de outubro de 2013

é melhor não vir

seja rei ou não
é melhor não vir.
não quero nenhum Sebastião
com promessas
de Quintos Impérios
madrugadas flamejantes
e cavaleiros andantes.
não há muitos mistérios.
seja rei ou não
é melhor não vir,
porque atrás de um Sebastião
vem Alcácer Quibir.

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

morrer? nem pensar!


começa a entrevista chorando. as lágrimas caem-lhe aos borbotões pela cara abaixo. 
deprimida de longa data, a quem têm sido prescritas sucessivas levas de antidepressivos, desenvolveu uma fobia aos lugares fechados. a claustrofobia manifesta-se, em elevadores, teleféricos, túneis, aparelhos de tomografia e lugares afins, por uma crise violenta de ansiedade: fica sem ar, o coração dispara para 160 pulsações por minuto, muitas vezes perde os sentidos. 

sentada na cadeira que lhe é reservada, prescruta em pormenor o gabinete em busca de um sinal de contacto com o exterior. descobre uma janela elevada e faz menção de dizer: - "já estou mais descansada, sempre há uma janela para ver a luz do dia..." 
no decurso da entrevista vou construindo o pretexto para lhe indagar da eventual ocorrência de ideias de suicídio. 
percebe logo onde eu quero chegar e não perde tempo a responder: 
-"morrer? tenho uma fobia horrível à morte. só de pensar que vou ficar debaixo da terra, sem espaço para me mexer e respirar, fico logo abafada! morrer? nem pensar!"

sábado, 19 de outubro de 2013

credores

não é preciso ser militante de extrema esquerda nem comunista para se ser contra a atual política do governo português. basta ser democrata, socialdemocrata ou mesmo democrata cristão. 
basta defender a iniciativa privada e a redistribuição dos excedentes dos mais afortunados pelos que têm menos sorte ou menos recursos. basta reconhecer que a essência do ser humano excede em muito a capacidade ou a esperteza para ganhar dinheiro e obter dividendos. 
basta saber que tão humano é quem tem muito como quem tem pouco. que tão humano é o comendador como o lavrador que lhe cava a terra. que tão humano é o patrão como o empregado. e que uma sociedade baseada na predação é uma indignidade, uma selva. 
dirão: "são os credores, eles mandam, eles é que nos emprestam o dinheiro". pode ser. mas nenhum credor inteligente quer o devedor morto ou falido. a "vontade dos credores" não passa aqui de argumento para impor a selva, a predação, o horror e a morte. não, não são os credores, são os filhos da puta que se escondem por detrás do paletó negro dos credores.

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

morte aos velhos e a quem os apoiar!

um velho fica caro e tanto mais caro quanto mais ativo. e tanto mais perigoso quanto mais se mexe. ele sabe demais e saber demais sai caro. se ao menos está entrevado, acamado, paralisado, entubado, pronto, é só tomar conta dele, ir lá de vez em quando ver se ainda não morreu, se o saco do chichi ainda não encheu, se a agulha do soro não saiu. enquanto lá está está a pagar, deixa a sua pensãozinha no lar e tudo bem. 
o pior é se mexe, se fala, se escreve, se perturba, se não está em lar nenhum senão no seu, quer dizer, na sua casa. aí a coisa complica-se. ele recebe a sua pensão e gasta-a a seu belprazer - coisa horrorosa! 
então há que dobrar-lhe a espinha, fazê-lo sentir o peso do cabelo gris, roubá-lo, chamar-lhe parasita e coisas piores. há que submetê-lo ao elder-jacking, arrancá-lo dos seus cuidados e sacar-lhe tudo. deixá-lo estatelado no chão, nu. 
e andam a medicina, a saúde pública, os nutricionistas, os vendedores de banha da cobra e toda essa legião de profetas da imortalidade a gastar o seu latim para isto. 
morte, mas é, aos velhos e a quem os apoiar!

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

o cume

o meu tio cónego - que deus tenha! - era uma pessoa brilhante e de finíssimo humor. fazia graça de tudo e acima de tudo gostava de brincar com as potencialidades da Língua para dizer coisas com vários sentidos. a despesa dos significados menos convenientes de uma frase ficava sempre por conta de quem a ouvisse. como se diz em francês, "honni soit qui mal y pense".
fazia diariamente, manhã cedo, uma viagem de elétrico (ou bonde, como também gostava de dizer) para ir rezar missa num convento de freiras. no percurso, passava pela casa que tinha acabado de mandar construir. era um casarão implantado a meio de um acentuado declive, à beira da estrada por onde passava o elétrico. dependendo do lado da estrada em que se caminhasse, podia muito bem nem sequer se lhe ver o telhado.
uma bela manhã, lá ia ele, desta vez acompanhado de um amigo formal, um poderoso engenheiro da elite dos edis da cidade.
o amigo resolveu comentar:
- ó senhor cónego, a sua casa está bem escondida. quem vai de elétrico mal lhe vê o *cume...
e a resposta pronta e séria do meu tio:
- e quem vai de elétrico já tem muita sorte, senhor engenheiro. porque quem vai a pé nem o cu*me vê...

terça-feira, 15 de outubro de 2013

a espada

lembro-me mais dela quando era nova. acabara de sair do sanatório. era uma mulher afável, doce, amorosa, meiga. tinha aquela bonomia e agilidade própria dos tuberculosos tratados com isoniazida - a mãe dos antidepressivos modernos. 
era muito querida dos sobrinhos. nunca vinha sem uma prenda, por pequena que fosse. lembro-me da prenda mais maravilhosa que recebi: um frasquinho na forma de carro. adorava aquele brinquedo. outra coisa que eu adorava era quando ela trazia nozes. dava um prazer imenso parti-las com pedras e comê-las à dúzia. 
um dia disse que havia de me trazer uma espada. e eu cismava, cogitava, sonhava para que raio queria eu uma espada. na época havia umas espadas de celuloide com que se abria as folhas dos livros que vinham unidas umas às outras, ora de lado, ora em cima. mas achava a prenda, se fosse essa, demasiado prosaica. hum, não seria mesmo uma espada a sério, como a do Afonso Henriques? 
esperei, cismei, sonhei, esperei, e a espada não havia meio de aparecer. até que um dia ela apareceu com um belo carro miniatura, de folha, vermelho, com parachoques niquelados, daqueles carros americanos dos anos 50, que ainda hoje se veem em Cuba. não queria acreditar. aquilo era a tal "espada", melhor, aquilo era "um" espada! 
foi envelhecendo e à medida que envelhecia foi-se tornando mais azeda. não quero lembrar-me dela de velha. esqueço. fico-me com ela de nova. tinha 96 anos. morreu. era a última representante da geração anterior. 
adeus, tia Isaura! vê lá se aproveitas para ficar mais nova.

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

a sova da Páscoa

"bater na sua mulher é uma forma de a educar" - diz o xeique Hussein Mohamed Amer, imã do Centro Aljisr de Laval, Quebeque.
faz-me lembrar um pobre paciente da minha consulta hospitalar, serrano, de baixo QI e alto consumo de álcool, que, há uns anos, já não me lembro a que propósito, me dizia que presenteava todos os anos a esposa dele com a "sova da Páscoa".
"e por que lhe bate?" - perguntava-lhe eu, meio confuso. "tem alguma razão especial?"
"não é preciso razão nenhuma - respondia ele, muito seguro. "dou-lhe a sova para a amolecer".
o que é deplorável é que estes costumes pré-históricos tenham sido incorporados em certos construtos religiosos e tenham chegado ao século XXI, ainda que aparentemente mitigados- vejam só - sob a fórmula "mas não severamente". ou seja, como "um medicamento a administrar [pelo marido à esposa] só quando todos os outros não tenham conseguido extirpar a doença".
estou esclarecido. como diria o outro, uma sova da Páscoa, mas não tão grande que mate a mulher. porque, afinal de contas, é ela que lava a roupa e faz de comer.

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

anda tudo doido...

a propósito do Dia Mundial do Animal, que se celebra a 4 de outubro, dia de São Francisco de Assis (padroeiro da bicharada), realizaram-se já algumas iniciativas de grande relevo e mérito. 
entrava eu há dias num hipermercado, quando uma senhora faz menção de me entregar um saco de plástico vazio, que eu só teria a maçada de encher com um ou dois sacos de ração para os pobres coitados dos bichos. 
por instinto, afastei a coisa simpaticamente e agradeci a proposta, sem a aceitar. 
entro. vejo dois ou três carrinhos de compras estrategicamente colocados para que qualquer distraído, ainda pior que eu, veja que há gente condoída e nobre que contribui para a alimentação dos animais supostamente carenciados. 
entro depois no hipermercado propriamente dito. fileiras de produtos para alimentação animal esperam o meu gesto de os comprar. 
e aí, confesso, afinei. então ele é isso: eu compro e dou, o hipermercado apenas me facilita o encontro com o local e a ocasião de ser solidário com os pobres animais, que, já se vê, são fidalgos, não se contentam com os restos da comida de casa. e, tal como o hipermercado, que se põe de lado na generosidade, apenas vende, passa-se tudo num reino estranho, diria mesmo absurdo. 
ó xente, estamos em crise, há gente a passar fome e outras privações. há gente que não tem que dar aos filhos, há gente que precisa de alimentos normais, comezinhos, vulgares de Lineu, e querem que eu compre comida de pet para dar a cães e a gatos que não conheço de lado nenhum e nem sei se gostam disso? 
anda tudo doido...

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

insónia

o café que me deram
- ou fui eu que o fiz? -
não me deixa dormir
levanto-me e escrevo um poema sem jeito nenhum
apetece-me voar para o Nepal
tal e qual
talvez em pensamento
que é o que eu sou
quando o meu corpo dorme
contra a mente acordada
lá, no Nepal, talvez consiga
adormecer sentidos e sentimentos
diz-se que a meditação é isso
então gostava de não ser ninguém
ou conseguir fingir que não sou ninguém
porque só tem insónia
quem é gente
afinal,
dormir é ir para o Nepal
e não precisar de viajar para o Nepal
quero ir a Katmandu já
e adormecer esta insónia
e se não conseguir
posso ao menos fingir
ou apagar o pensamento
de tudo isso
e o que tem de bom Katmandu
é que nunca fui lá
posso sonhá-la à vontade.

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

fechado no elevador

vejamos: entra no elevador e clica no número do andar para onde pretende ir. 
o elevador sobe normalmente. 
de súbito, o número do andar pretendido é substituído por dois traços: "- -". 
tenta sair. 
a porta está fechada e recusa abrir-se. toca no botão de alarme. ninguém responde. toca continuamente. ninguém responde. volta a tocar repetidamente. e ninguém responde. tenta ligar a alguém que o venha ajudar. tenta também os telefones papacontas do serviço de "apoio ao cliente". o telefone celular não tem rede em nenhum dos dois SIM. 
volta a tocar o alarme o mais tempo possível, a ver se na rua, ali a 30 metros, alguém ouve. tem de sair urgentemente porque tem um compromisso que não espera. ninguém ouve. o ar da cabine parece quente e ralo. bate com força na porta do elevador, talvez o barulho chame alguém. 
passada meia hora, ouve vozes. alguém lhe fala. sabe que já não está sozinho, mas continua fechado, abafado, ansioso. 
descobre que a porta se pode abrir levantando um cravelho com alguma força. não sabe se vai apanhar um choque, mas vale a pena correr o risco. o cravelho levantou-se. conseguiu abrir a porta. verifica que está muito acima de um andar e tem um grande salto para fazer. há um buraco medonho no poço do elevador, por onde pode cair se algo correr mal. e era uma vez. 
põem-lhe uma cadeira por baixo, no andar respetivo, mas ainda faltam 50 cm para lá chegar com os pés. é perigoso, mas tem que ser. as mãos amigas, que desconhecia amigas, amparam-lhe a descida de forma a sair o mais em segurança possível. finalmente sai. corre tudo bem.
sabem, deve haver poucas coisas que se comparem ao sentimento de alívio depois de liberto da situação de sequestro. hoje nem sequer era um dos meus melhores dias, mas agora sinto-me tremendamente feliz.
obrigado, elevador de merda!

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

a ditadura da "ciência" e a escola sem sal

ao longo da sua história multimilenar, andou o homem em busca do sal, que percorria por vezes milhares de quilómetros para chegar ao local de consumo. de barca, de burro, de camelo, o sal aparecia onde a natureza se esqueceu de o por. de tão importante e essencial para a vida humana, para manter o tónus físico e psíquico e para fornecer o indispensável iodo à glândula tiróide e assim impedir o bócio endémico, isto sem falar do seu papel na conservação de alimentos durante os meses de inatividade rústica, o sal serviu até de recompensa pelos serviços prestados aos reis, príncipes e impérios, de onde derivou diretamente a palavra "salário". tem, além disso, o nosso sangue a mesma concentração de sal que a água do mar. coisa pouca. nada disso tem importância, nada disso conta. os cérebros "científicos" que dirigem as instituições de vigilância e preservação da saúde pública é que sabem. sabemos agora que tiveram a ideia peregrina de privar de sal as nossas crianças de escola. com ou sem idênticos resultados, vão ter de compensar essa falta com medicamentos mais tarde ou mais cedo. vão fazer crianças asténicas, apáticas, abúlicas. vão piorar o rendimento escolar. são uns crânios.
podiam regular os teores máximos de sal na indústria e no comércio "alimentar". podiam. mas preferem castigar as nossas crianças em idade escolar. que deus lhes perdoe, que eu não tenho capacidade para tanto. 

domingo, 18 de agosto de 2013

crueldade e ideias peregrinas

1- não sei de onde veio a ideia peregrina de tentar implantar a tourada em Viana do Castelo. não por ser Viana do Castelo. podia ser Ponte da Barca, Melgaço, Lamego, Fafe, Cinfães, Castelo de Paiva, Cabeceiras de Basto, Amarante. até em Torre de Dona Chama ou Macedo de Cavaleiros. a tourada não pertence aqui. não tem raízes nem tradição. é filha de um antigo culto do touro que não teve qualquer implantação no território galego-português. normalmente, as tentativas de implantar a tourada nesta região (Galiza e Portugal) ficam-se por aí, tentativas que rapidamente caem no vazio e pronto. a simples necessidade de montar "praças de touros" móveis é a prova de que não existe tradição nenhuma, quer dizer, mercado, como agora se diz. e se com essa ideia luminosa queriam captar o "mercado galego", só prova que não percebem nada da coisa. o "mercado galego" é igual ao "mercado de Entre Douro-e-Minho": nulo.
meteu-se ao barulho a "defesa dos direitos dos animais". a coisa não tem nada que ver com a "defesa dos direitos dos animais". tem a ver simplesmente com o não uso do tema. há quem não perceba isto e pense que se pode impor o culto de Santo António, de São Julião ou de São Bento da Porta Aberta numa cidade muçulmana ou hinduísta ou simplesmente cristã protestante.
mas há também o contrário. há quem não perceba que quanto mais se quer obstruir mais força se dá a quem a não tem. não entendo a atitude do presidente da Câmara Municipal de Viana do Castelo. a tourada fez-se. o senhor perdeu em tribunal a providência cautelar para evitar a realização da coisa. foi desautorizado. fez-se acompanhar de defensores dos "direitos dos animais", causa demasiado recente e politicamente correta para ter algo que ver com não se gostar de touradas. por razões culturais, a tourada não vingará em Viana. mas o presidente escusava bem de ter extremado os campos. e dar importância ao que a não tem. queira deus que não tenha contribuído para chamar clientes para o infeliz evento e atrasar o natural esquecimento e morte deste tipo de ideias peregrinas.


2- eu não sei se a tourada é uma crueldade ou não. não sei, sendo crueldade, que sentido tem onde acharem que o tem. não vou por aí. é que, por exemplo, não sei que lugar ocupa essa possível crueldade no ranking das crueldades do mundo contemporâneo. sei é que é absurdo fazer uma coisa onde ninguém tem apetência para a fazer.
                                             

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

filhos da puta

"eles" sabe-na toda: liberalizar, liberalizar, liberalizar.

- valores? o que são valores?
- honestidade? o que é a honestidade?
- justiça? o que é a justiça?
- pobreza? o que é a pobreza?
- moral? o que é a moral?
- redistribuição? o que é a redistribuição?
- verdade? o que é a verdade?


verdade, honestidade, justiça, moral, pobreza e riqueza, tudo isso são papões com que nos querem impedir de fazer o que quisermos. de sermos o mais filhos da puta que conseguirmos ser. para nos obrigar a sustentar os que não conseguem ser suficientemente filhos da puta.
todas as coisas são bens transacionáveis. até a tua alma. tudo o que tu tens podes vender. tudo o que tu venderes posso comprar.


assim pensam eles...

pensões, cortes e a pouca-vergonha

além das vergonhosas exceções ao corte das pensões de aposentadoria ("reforma"), que abrangem cirurgicamente deputados, juizes, militares, magistrados e agora também trabalhadores da Caixa Geral de Depósitos, assiste-se a esta pouca-vergonha de, com os cortes e exceções aos cortes, o Presidente da República passar a ganhar menos que a Presidente da Assembleia da República (Parlamento). não me refiro especificamente à pessoa mas ao cargo. há que salvaguardar a dignidade das instituições, esteja lá quem estiver. se o que agora está a acontecer se deve ao fecundo, inteligente e correto exercício do mandato por parte do seu atual ocupante é que eu não sei. mas por algo há de ser. tenho pena, porque é bem feito.
ah, antes que me passe da ideia: cirurgia por cirurgia, esqueceram-se de excecionar os pastores protestantes, os padres, os bispos e os cardeais católicos. esquecimento perigoso. atenção às homilias.

nota final:
sou contra todos os cortes das pensões, dos que são agora excecionados e dos que não são. mas quase me atrevia a dizer que o critério devia ser o inverso: pelo valor das reformas que auferem, e pelo que contribuiram para as ter, deveriam ser eles os cortados e não nós, deveríamos ser nós as exceções e não eles. se isto tivesse alguma justiça ou ponta por onde se lhe pegue. ah, pois, justiça...

terça-feira, 23 de julho de 2013

nós pagamos

ouve-se e lê-se, cada vez mais, a lamúria: "nós é que pagamos". pois é, "nós" pagamos tudo: pagamos o vencimento do Presidente da República, pagamos o vencimento do primeiro-ministro, o vencimento do vice-primeiro-ministro, o vencimento dos ministros, dos secretários de estado, dos adjuntos, dos consultores, dos funcionários governamentais, dos diretores gerais e funcionários das direções gerais, dos institutos, dos funcionários dos institutos, dos deputados, dos funcionários do Parlamento, dos presidentes da câmaras municipais, dos vereadores, dos funcionários das autarquias, dos funcionários públicos em geral, dos polícias e dos militares. com a ajuda "deles" todos também, já se vê. e pagamos ainda os funcionários privados e respetivas empresas empregadoras, pois que, sem o "nosso" dinheiro e o "deles", ninguém comprava nada e não haveria emprego, nem empresa nem salário. moral da estória: "nós" é que temos o dinheiro. e pagamos as multas e despesas de todos, incluindo as nossas. "nós" somos assim. "nós" e "eles", que também fazem parte de "nós". pois, aí está: sem "nós" não havia país.

sexta-feira, 12 de julho de 2013

o VVIAO

não tenho a certeza se o vetusto e venerando imperador das areias do oeste (VVIAO) existe realmente ou é invenção minha. provavelmente, é invenção minha a partir da realidade do império das areias do oeste. algo como nos sonhos. mas há sonhos que incomodam só de pensar neles. 
o VVIAO tinha um fetiche por números e por mercados. não havia número nem mercado que ele não conhecesse, somasse, dividisse, subtraisse e multiplicasse. dizem que não sabia fazer outras contas, até porque essas eram suficientes e chegavam muito bem. mas passava o tempo todo a juntar números com mercados e mercados com números, regando-os às vezes com orçamento "do" Estado, tirando daí interessantes augúrios e auspícios. e quando queria saber se devia manter um vizir ou um vice-vizir ou ambos, ou chamar todos os potenciais vizires e atá-los num molho, ele ia aos números, mercados e orçamentos "do" Estado, de onde concluía por A mais B que se assim não fosse teria de ser de outra maneira. e assim era sempre. 
de jeito que os súbditos do VVIAO já nem contavam com outra cousa. queriam é que o VVIAO pirasse de vez. 
porém, o drama do vetusto e venerando imperador das areias do oeste era haver uns quantos súbditos que acreditavam que ele era o infalível, omnisciente e omnipotente filho de deus vivo. sobretudo quando fazia asneiras que mais ninguém entendia. 
no império das areias do ocidente houve uma crise financeira muito grave. não se conhecem bem as causas, embora tudo apontasse para manobras especulativas de agentes da alta casinância. os casinos do império começaram a falir, um detrás de outro. então o vetusto e venerando imperador empossou um conselho de alvazis chefiados por um vizir. trataram logo de botar as culpas ao vizir anterior e de nomear de entre eles um alvazil das contas furadas. o alvazil das contas furadas começou por tributar todos os súbditos, na intenção de recompor os casinos e pô-los a funcionar de novo o melhor possível. depois de todos os súbditos ficarem sem nada, o alvazil das contas furadas descobriu que tinha feito ainda pior do que a crise e, antes que lhe extraissem cirurgicamente a cabeça, operação que ele detestava, foi-se embora ou alguém o mandou. a confusão instalou-se e um alvazil, mais esperto e inteligente que todos os outros juntos, tornou-se vice-vizir com mais poderes que o vizir propriamente dito. aí o imperador desorientou-se, ele que era imperador das areias do ocidente e não do oriente. furioso, atirou com tudo ao ar e pum! 
alguns súbditos começaram a achar que o imperador não estava bom da cabeça e o melhor era ele resignar.

o vetusto e venerando imperador das areias do oeste, tendo verificado que a situação do império era uma catástrofe que desabaria não só sobre o império mas também sobre ele e a sua corte mais próxima, meteu a venerável corte mais próxima no armário imperial e ordenou a todos os nobres da corte, dos mais próximos aos menos afastados, que constituissem um conselho de vetustos alvazis e de um venerando vizir sénior, de forma a que os súbditos se esquecessem, no prazo de um ano, de todas as incompetências do conselho anterior e da venerável corte mais próxima. "talvez assim se consigam perpetuar no poder e salvaguardar o meu reinado, a memória dos súbditos é de curto prazo" - pensou. ou, dadas as circunstâncias pessoais do vetusto e venerando imperador da areias do oeste, alguém pensou por ele.

o pior é que nada disso aconteceu. e o que aconteceu verdadeiramente ninguém sabe ao certo. 

sexta-feira, 14 de junho de 2013

do otimismo possível

é verdade que hoje está tudo pior que ontem. mas, em compensação, está tudo hoje bem melhor do que amanhã. é preciso manter o otimismo e a confiança no presente. e sobretudo muita confiança no passado.

terça-feira, 11 de junho de 2013

o país dos 600 euros ou menos

de repente, Portugal tornou-se um país exclusivo para quem recebe menos de 600 euros por mês. eles não têm cortes, não pagam impostos, não pagam taxas moderadoras, nada. ninguém lhes toca. claro, tudo bem, tudo aparentemente justo. mas o problema é que um país assim é um país perigoso. porque quem recebe menos de 600 euros por mês por alguma razão não recebe mais. e são esses que fazem facilmente maiorias governativas. está tudo pensado...


discurso sobre as lamentações e o otimismo

há uma parte das lamentações que é pura lucidez. e há uma parte do otimismo que é pura alienação. depende do caso.

sábado, 8 de junho de 2013

o lar

um vetusto e venerável "lar da terceira idade". vejo-os, os velhos ("idosos", como lhe chamam), entregues, total e passivamente, aos cuidados de terceiros. não vão para a rua, como as pessoas propriamente ditas. não vão às compras, como as pessoas normais, não vão, simplesmente, passear à vontade pelas ruas, como eu. nem sequer estão doentes como os doentes que a gente conhece. estão ali. não têm amigos, são todos amigos à força. não têm família, a família deles é aquela coisa. hesito em compreender onde estou: numa cadeia, num hospital, num convento de clausura. num manicómio. qualquer das hipóteses serve. a porta está fechada, há um aparato clínico e um ritmo litúrgico. há um claustro central. quem lá está vai à missa, reza o terço, encomenda-se a deus e aos santos, para um agora-nunca-e-sempre e para uma hora cada vez mais próxima. confessam os seus crimes, as suas maleitas, o seu diagnóstico: 70, 75, 80, 93 anos de idade. encolhem os ombros e sorriem. aguardam o dia da execução da sentença. não há recurso. e, sobretudo, fazem o que lhes mandam.

sexta-feira, 7 de junho de 2013

metafísica

o conhecimento do conhecimento
é um quadrado
com um conhecimento de lado
e o conhecimento desse conhecimento
é um cubo
por onde teimosamente subo
acontece que chego a meio
e caio
catrapum em cheio
desmaio
mas quando acordo insisto
não resisto.

quinta-feira, 6 de junho de 2013

lamentação em dó sustenido

tenho mais sonhos
do que é permitido por lei
de jeito que passo a vida
a pagar multas
por sonhar demais
não são sonhos desses
são destes
que fazem de mim um sonhador

lamentação em dó menor

às vezes apetece-me dizer não
mas é tão inútil dizer não
as coisas acontecem na mesma
ou desacontecem se tiver que ser
que em vez de dizer não
vou aprender a nadar
eu já sei nadar
mas é que aprendi a nadar
num rio mau
e ganhei medo da água
de jeito que nem sim, nem nim, nem não
dlão, dlão.

segunda-feira, 27 de maio de 2013

adoções

na adoção em geral ou na coadoção em particular há uma questão fundamental: dizem os adotantes e candidatos que a discussão é em torno dos direitos ou vantagens das crianças adotadas, quer dizer, de alguém que não pode ou não deixam pronunciar-se. logo, não tem nada que ver com os interesses de mais ninguém senão com os de quem quer adotar. tudo o resto são construções retóricas. porque, além do mais, há à partida uma enorme questão: a seleção do adotado em detrimento dos que ficam por adotar.
que dizem eles, os adotantes, aos que deixam sem adoção: és feio? não gosto de ti?
é que no mundo dos pais não se escolhem os filhos. fazem-se.
por isso, não me lixem com essa conversa dos direitos e da felicidade da criança.
seja qual for a constituição do casal adotante, a coadoção é uma leviandade. vincula-se um ser humano em desenvolvimento, uma entidade vitalícia, a uma entidade mais ou menos efémera e transitória a que se chama casal. ou seja, sempre que o casal se desfaz e cada membro adotante refizer a sua vida, a pobre criança vai juntando ao seu currículum vitae mais um pai ou uma mãe.
o que em termos de direitos e felicidade da criança é ótimo e reconfortante. quantos mais pais e mães tiver, melhor para ela.
não me lixem com essa conversa dos direitos e da felicidade da criança. porque o que está em causa não é a felicidade nem os direitos da criança adotada, mas sim a felicidade e os direitos do casal adotante enquanto dure.
e já nem quero falar dos casos em que os pais adotivos, fartos ou não satisfeitos com a aquisição que fizeram, devolvem a criança adotada à proveniência. é claro que isso é no interesse da criança e da sua felicidade.
seja qual for a constituição do casal, a coadoção é como por uma casa ou um carro "em nome dos dois". só que a criança não é uma casa nem um carro. não é uma coisa nem um bem transacionável. nem alienável.

e, depois, uma coisa é discutir os direitos e a proteção das crianças, outra coisa, muito diferente é discutir a igualdade de direitos das maiorias e das minorias, quer dizer, as heterofilias e as homofilias, as heterofobias e as homofobias. não se misture o que não é misturável, nem se use as crianças como armas de arremesso. faça cada qual sua coisa, de acordo com o seu gosto, desejo, inclinação, parcerias ou destino. mas não invoquemos as crianças em vão.

não me lixem.



sobre o insulto

o insulto, quando bem feito, pode ser uma arte e tornar-se um meme. nem todos os insultos são uma arte, nem todos os insultos se tornam meme. e dos que se tornam meme, a maioria passa rapidamente de moda e tornam-se chatos, como sucede com a imensa maioria dos memes em geral. mas alguns têm tal força natural que atingem o ponto de viragem (tipping point). a grande questão é saber se a força do insulto vem do insulto em si ou das particulares caraterísticas do(a) insultado(a). porque a verdade é que quando o(a) insultado(a) não é insultável o insulto não resulta. nem sequer se torna meme.

sexta-feira, 10 de maio de 2013

os vândalos

matam a civilização, a cultura, o bem-estar.
matam à fome, à miséria e à humilhação.
destroem a honra, os sonhos e as certezas.
arrasam tudo por gosto de ver sofrer,
de ver cair, de destruir, de liquidar.
não deixam pedra sobre pedra.
eles são os vândalos do século XXI.
e diante de coisa tão medonha,
as putas que os pariram riem-se
para não chorarem de vergonha.

a Europa que não sabemos ser

olhamos para a Europa como um colonialista mau, que manda em nós e nos oprime. esquecemos que a Europa somos nós que a fizemos. não fomos conquistados nem ocupados. assinámos os tratados. somos parte. por isso, a Europa não é uma entidade terceira. o problema não está no colonialismo europeu, está na nossa mentalidade de povo colonizado. não pensamos em ser um motor de mudança da Europa, estamos à espera que a Europa mude por por si mesma, por obra e graça do Espírito Santo. a questão é que temos de ter líderes à altura do momento. na Europa? claro. quer dizer, em Portugal. 

quinta-feira, 9 de maio de 2013

tragédias e arbitrariedades

todos os dias me espanto ainda com a capacidade que este governo tem de passar por cima de tudo e de todos, de normas e leis, de contratos, costumes e constituições. um governo ao sabor dos caprichos e dos azeites, que não olha a meios para atingir fins - que ninguém, nem ele, sabe quais são. vivemos um momento de tragédia, de arbitrariedade, de insensibilidade absoluta. que morramos, que passemos fome, que não tenhamos com que alimentar e educar os filhos, pouco lhes importa, nem pouco nem muito, nada. somos governados por robôs em forma de gente. por números e por modelos de números, por aprendizes de matemática e de economia. tudo ao jeito da fina finança, dos autores da crise, da crise criminosa que nos puseram em cima, e que pagam não com o dinheiro deles, mas com o nosso. e ainda se atrevem a culpabilizar-nos, a atirar para cima de nós o labéu de termos vivido acima das nossas possibilidades. e o incrível é que há tansos que engolem e aceitam. talvez ainda não tenha chegado a vez deles. ou talvez sejam apenas tansos. ou, quem sabe, simplesmente não sejam pessoas normais.

quinta-feira, 4 de abril de 2013

o sentido das coisas

quando eu era miúdo, aí pelos meus 4-5 anos, acreditava que havia 5 tipos de pessoas: velhinhos e avós, pais e tios, irmãos e primos mais velhos, crianças como eu e, finalmente, os bebés. cada qual era assim, estava assim e pronto. o modelo funcionava muito bem naquela ausência de tempo do paraíso infantil. uma vez por outra morria um velho ou um pai ou um tio ou um moço ou um bebé (um anjo, comose dizia). mas tudo tinha uma explicação satisfatória para o modelo: era uma doença, um afogamento, uma queda, um acidente estúpido, um ataque do coração ou da cabeça, sempre uma coisa que, sendo excecional e fazendo sentido, deixava a boa ordem funcionar intacta.
o modelo foi-se adaptando ao longo da vida, com as subidas sucessivas ao escalão seguinte. cada subida de escalão era um galão a mais na farda.
até que os velhos da minha casa começaram a morrer, um por um.
aí compreendi que o modelo estava errado e que o sentido que as coisas fazem é não fazerem sentido nenhum.
finalmente, que talvez não seja preciso que as coisas façam sentido. só temos que as compreender e aceitar.

sábado, 30 de março de 2013

sobre a hipocrisia das religiões, de outras formações e dos anti-hipócritas

"hipócrita" era na Grécia antiga, o ator com a sua máscara. a "persona" em latim. que deu em Português "pessoa". todos nós trazemos a nossa máscara (persona). todos nós somos velhos atores gregos (hypocrithés / υποκριτικές). não é possível viver em sociedade sem essa "persona". a Igreja Católica, a Anglicana, a Evangélica, a Política, os políticos e apolíticos, os de esquerda e de direita, os crentes, os agnósticos, os ateus e os anarquistas, os hetero, homo, bi e poli também a têm. e precisam dela. e, por que não dizê-lo, até lhes fica bem...
fica bem? claro que fica. caso contrário como distinguiríamos uns hipócritas dos outros?




foto: http://teatraio.wordpress.com



quando os bispos falam contra a política


a Igreja Católica Portuguesa, ao contrário de outras, como a Igreja Ortodoxa de Chipre, por exemplo, já foi espoliada de quase tudo, talvez antes do tempo.


já pagou largamente os seus impostos: igrejas, conventos, foram transformados em hospitais, quarteis, edifícios de Câmaras Municipais, edifícios de governo e da Assembleia da República, liceus, pousadas, monumentos nacionais de visita "obrigatória", etc. 


e outros edifícios nem sequer foram aproveitados, cairam em ruinas. 
apesar disso, tem resolvido ou ajudado a resolver problemas, crises e insuficiências que caberia a outros resolver sem a sua ajuda. 
por isso, apesar de uma certa complacência e até cumplicidade que sempre tem mostrado em relação aos poderes, ou talvez por isso mesmo, quando diz que a política é insuportável e os políticos são incompetentes é porque a coisa está preta.





segunda-feira, 25 de março de 2013

a farmácia de serviço

em Faro. paro o carro em frente à farmácia de serviço.
saída do nada, uma velha aproxima-se da minha janela e conta uma estória. o marido morreu, ela vive na rua e passa mal. é diabética e outras coisas. se eu a podia ajudar. vou ao bolso. tiro as moedas, não muitas, que o tabaco leva-mas todas. diz que muito obrigado e faz menção de se ir embora. digo-lhe que vá com deus e corra tudo pelo melhor.
acendo um cigarro. a coisa cheira-lhe. volta para trás: "já agora, se me desse um cigarrinho...sou diabética, não devia fumar, não fumo muito, mas agora está-me a apetecer..."
deve ter jeito para a coisa. aborda o carro parado à frente do meu.
dois minutos depois, vejo uma nota de 5 euros sair do carro e ir ter à mão dela.


 .

ah, é claro: e a farmácia de serviço...
grande velhota!





quinta-feira, 14 de março de 2013

o bosão de Higgs

tenho dado imensas voltas à cabeça para descobrir o que tem o bosão de Higgs a ver com Deus [ou deus]. não descubro. o bosão é demasiado pequeno para se ver nele alguma coisa. e aposto que, a existir Deus [ou deus], teve que se arranjar sem o CERN, onde, com imensos milhões em moeda forte, se fabrica um efémero e raríssimo "bosão". 
é que eu confundo muito Deus [ou deus] com o próprio Universo. no que nem sequer sou original. porque, se é preciso arranjar alguma "coisa" que seja omnisciente, omnipotente e eterna, sem princípio nem fim, sem espaço nem tempo, criadora não criada, composta e geradora de todas as mudanças, não vejo necessidade de inventar outra coisa. basta contemplar o próprio Universo. a bem dizer, a nossa relação com esse Universo é que é o verdadeiro "cerne" da questão. o "bosão" vem depois. é feito no CERN, com imensos milhões em moeda forte. e além disso não serve para nada.

quinta-feira, 7 de março de 2013

a União Europeia e a limpeza de género

o Parlamento Europeu, que não tem mais que fazer, vai levar a votos uma proposta de "proibição de todas as formas de pornografia nos meios de comunicação e na publicidade do turismo sexual".
banir toda a pornografia? pois claro.
e o que é "pornografia"? e eis como uma pergunta tão simples e inocente nos conduz a respostas do tipo "eliminação de estereótipos de género na UE. promover a igualdade de género e eliminação de estereótipos de género", "discriminação da mulher na publicidade" e - não esqueçamos -, àquelas iniciativas linguísticas tolas, com cobertura académica e tudo, mestrados e doutoramentos, de eliminar a diferenciação de género na linguagem oficial. 
está certo. ai Constantinopla, Constantinopla, como tu discutias o sexo dos anjos, enquanto os turcos te faziam o cerco... 
agora, Estrasburgo, Estrasburgo, decretas que somos todos anjos. e sem sexo, que é por causa. encantados.

 

então, qual vai ser a nova onda, o novo grafismo: banir a imagem humana e dos seres vivos e refugiar-nos nos motivos geométricos? 
está bonita a coisa...


os reformados

está muito na moda das ideias feitas - se é que são ideias -, quer dizer, do politicamente correto, dizer agora em abono dos reformados, e para justificar a sua pensão, que eles são o sustento dos familiares desempregados e essas baboseiras coisa e tal. ora essa, que estupidez, os reformados não têm vida própria, não contribuiram para a ter? os reformados são alguns marginais endinheirados e inúteis que não merecem o que têm? os reformados são alguma caixa de esmolas? os reformados são alguns cadáveres adiados? os reformados são alguns institucionalizados a quem se despersonaliza às claras e se rouba às escuras? não, os reformados têm um direito construido por eles próprios e que ninguém tem o direito de lho tirar. e têm tanta obrigação de sustentar os familiares desempregados como o têm os que não são reformados. essa justificação para a pensão, não. 


eu exijo a minha pensão intacta porque é minha, porque contribuí para ela. o que faço com ela é da minha conta.
ponto final.


quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

contra um deus que não existe


sou um católico nostálgico. mesmo que Deus esteja morto ou em doença terminal, mesmo que seja um órfão de um pai que simplesmente nunca existiu, não posso por de lado a educação, a narrativa e os princípios que tive. não posso sequer ignorar que esse meu deus, terminal ou até morto, tem  neste mundo um representante simbólico vivo. um homem como eu, mas simbolicamente muito mais que eu. outros acreditarão em pais simbólicos de outra natureza. outros decidiram matar todos os pais, reais ou simbólicos, porque ainda não são crescidos o suficiente para serem pais de verdade. quer dizer, ainda não são suficientemente mestres para poderem matar o seu mestre dentro de si. e por isso odeiam tudo o que lhes cheire a um pai. eu não. seja esse pai real ou simbólico, morto ou em doença terminal, estou órfão.
está tudo em crise. pois está. e, por isso mesmo, esse pai faz cá imensa falta.


eu sou assim, e sinto-me assim. mas ao menos não ando, como muitos que por aí vejo, numa luta de vida ou de morte contra um deus que não existe.

2º contributo enviado ao GT-AAAO


Sobre a nova ortografia levanta-se novo acesso febril. Um grupo de algumas escassas dezenas de sujeitos, armados numa certa elite dona universal da Língua Portuguesa, e que ainda por cima não se envergonha da companhia que leva atrás, não para de lutar contra o interesse nacional e contra o interesse da Língua Portuguesa no mundo.
As contas são boas de fazer. Somos 240 milhões de falantes e escreventes da Língua. Mas só os brasileiros são quase 200 milhões. Quer dizer, o Brasil representa, pelo menos, 3/4 da Língua. Nós e os restantes, no máximo 1/4 (e deste 1/4, como é sabido, nem todos são bem-bem lusofalantes e muito menos bem-bem lusoescreventes).
É bom de ver que, no caso de não harmonizarmos as nossas normas escritas, se não houver uma norma comum, sempre que a nível internacional se tenha de escrever em Língua Portuguesa a norma utilizada será a brasileira. Isso já se verifica um pouco por todo o lado e até em documentos da própria União Europeia. Como é bom de ver, o Brasil não precisa de nós para nada. Manda até professores de Português para a África lusófona e para Timor Leste. Nós é que precisamos que o Brasil adira a um Acordo connosco. Caso contrário, ficaremos dependentes da norma brasileira. E é muito bem feito. 
Mas a insensibilidade (para não lhe chamar outra coisa) de certa elite portuguesa, que não tem vergonha do séquito que leva atrás, não chega lá. Prefere ser autocontemplativa, auto-suficiente e pequenina. E pior: ela já não argumenta, já não dá razões. Diz que a nova ortografia é "desconchavada", "pessimamente fundada" e "inútil". Isto apesar do número de empresas, serviços, organismos públicos e privados e órgãos de Comunicação Social que a usam sem qualquer problema ou dificuldade. Mas essa espécie de elite é assim: decreta e já está. É politicamente correta, insensível (para não lhe chamar outra coisa) e gravemente danosa para o País e para a Língua Portuguesa. 
Recentemente, vem essa elite com o "argumento" de que a nova ortografia é um mero ato de política. Ora, pois claro que é. A reforma de 1911 também o foi. Por sinal, um erro colossal, por ter modernizado a escrita sem ter consultado o Brasil, criando assim, do pé para a mão, duas normas para a mesma Língua. A nova ortografia é, de facto, uma realização de natureza política. Uma realização maior de uma política da Língua. 
E esta é, possivelmente, a última oportunidade de estabelecermos a harmonização das normas da Língua. Se a perdermos, seremos os “luxemburgueses” da Língua: defende-se o quintal, o dialeto, perde-se o mundo.


José Cunha-Oliveira

Médico
Coimbra

uma discussão absurda e extemporânea (contributo enviado ao GT-AAAO)



A discussão sobre o Acordo Ortográfica é ociosa e inútil. Quem é contra porque sim, porque lhe apetece, é contra porque sim, porque lhe apetece. Quem tem razões para ser a favor continua a ter as mesmas razões. E a principal delas é a defesa do papel da Língua Portuguesa no mundo, como veículo de comunicação internacional.
Mas apesar de toda a “argumentação” contra e de todos os argumentos linguísticos a favor, a questão não é técnica nem científica, é política.
De um lado estão os que defendem uma política da Língua isolacionista e provinciana, aqui e ali sombreada com um nacionalismo triunfalista do segundo terço do século passado; do outro lado, os que defendem uma política da Língua que respeite a igualdade entre todos os países e regiões da Língua, uma política que realce e defenda o seu lugar privilegiado no panorama linguístico do mundo, onde, por força das coisas, o Brasil representa [mais de] três quartos dos falantes.
Não existe Lusofonia com peso no mundo sem o Brasil. Por isso, é natural que uma política da Língua inclua obrigatoriamente o Brasil. Brasil que, ainda por cima, tem uma relevância económica e política mundial que Portugal não tem. 
O Brasil só precisa de nós para ser no mundo mais que uns meros 200 milhões de falantes de uma só Língua; nós precisamos do Brasil para termos a importância que significa falarmos a terceira Língua a nível mundial. Para isso, precisamos de uma norma escrita comum, que, por sinal, fomos nós a destrui-la com a iniciativa legislativa isolada dos republicanos de 1911.
Um século depois, chegou a hora de definir quem somos.
É a hora de atitudes políticas consistentes. É a hora de sermos portadores de uma Língua mundialmente importante ou de sermos uma língua sem qualquer relevância mundial. Os argumentos e as decisões são da política. É para isso que se quer a política.
Se ficarmos isolados, nós, os nove milhões e pico, mais os falsos milhões de certos países lusófonos onde a lusografia e a lusofonia está longe de ser a regra, representamos, na mais otimista das hipóteses, um quarto dos falantes. Ou seja, teremos a importância que merecemos.
Deixemo-nos de discussões ridículas e inúteis.
Claro que a nova ortografia é uma questão política, e não linguística. Uma questão política essencial. É claro que a longa preparação e a assinatura do Acordo, sua ratificação pela Assembleia da República e promulgação pelo Presidente da República foi uma obra política. Assim como é política a sua absurda e ridícula rediscussão.
Se o não fosse, por que razão alguns quereriam referendar uma questão “linguística”? Se o não fosse, por que motivo a Assembleia da República criaria uma Comissão, uma Subcomissão e um Fórum para discutir a coisa? E, já agora, pergunto: os votantes desse tal referendo são [todos] linguistas? os deputados são [todos] linguistas? os contristas são [todos] linguistas? os ignorantes são [todos] linguistas?
E como farão os contristas, se por desgraça tiverem suficiente força para fazer o impensável, quero dizer, voltar atrás? Como irão gerir a miríade de instituições, escolas, organismos do Estado, empresas, editoras e órgãos de comunicação social que já aplicam a nova ortografia? Vão mandar as tropas sobre eles? Vão obriga-los a obedecer? E como, se os contristas foram os primeiros a praticar a desobediência civil? Ir-se-ia, então, assistir a uma desobediência cívica maciça “a contrario”?
Andamos a brincar às ortografias?
A nova ortografia já fez, felizmente, suficiente caminho para ser respeitada e adotada, não só como elemento de lei que é, mas porque uma imensa gente a adotou e pratica.
Para que se faça uma pequena ideia do caminho percorrido pela nova ortografia em Portugal, aqui fica uma listagem, infelizmente incompleta, das entidades que seguem a nova ortografia. Pelos vistos, as dificuldades, impossibilidades, e inconsistências da nova ortografia ninguém as deteta quando a pratica.
Se isto não é um argumento, é o quê?


ADESÕES À NOVA ORTOGRAFIA:

ABA - Associação de Basquetebol de Aveiro,
A Bela e o Monstro Edições, Lda.,
A Bola,
A Cabra – Jornal Universitário de Coimbra,
Academia de Música de Oliveira de Azeméis,
Academia Internacional de Música Aquiles delle Vigne,
Ação e Tratamentos (revista do GAT).
Ação Missionária,
ACAPO - Associação dos Cegos e Amblíopes de Portugal,
A Cores - Associação de Apoio a Crianças e Jovens em Risco,
Açoriano Oriental,
ACP - revista,
ADSE,
AEIOU,
AEP - Associação Empresarial de Portugal,
Agência Financeira,
Agência LUSA,
AGLP - Academia Galega da Língua Portuguesa (Galiza),
Águas de Coimbra,
Algarve Mais,
Algarve Notícias,
Amnistia Internacional - Portugal,
ANJE - Associação Nacional de Jovens Empresários,
APEL - Associação Portuguesa de Editores e Livreiros,
APPDA Coimbra,
Apple,
A.R.Andrade - Coimbra, 
Areal Editora,
ARS Algarve,
ARS Centro,
ARS Norte
Assembleia da República,
Associação Artística Vimaranense,
Associação Empresarial de Amarante,
Associação Empresarial de Paços de Ferreira,
Associaçom Galega da Língua (Galiza),
Associação Internacional Colóquios da Lusofonia.
Associação Portuguesa para o Desenvolvimento Hospitalar, 
Atrium Solum (Coimbra),
Audiência,
AutoFoco,
Auto hoje,
Autoridade Tributária e Aduaneira online,
AutoSport,
A Voz da Figueira,
A Voz de Cambra,
A Voz de Ermesinde,
A Voz de Loulé,
A Voz de Trás-os-Montes,
Azeite Gallo,
Banco BIC
Barclays,
Barlavento,
Bebé Vida,
Benfica TV,Bertrand Livreiros,
BES - Banco Espírito Santo,
Biblioteca da Figueira da Foz
Bike,
Bio - Canal (TV),
BlueTicket,
BMW,
Boletim de Notícias
Bulas dos medicamentos,
Catálogo IKEA,
Catálogo Yves Rocher,
Centro TV,
CidadeVIVA,
Closet magazine,
CM-TV,
Deco / Proteste,
Dicionário Estraviz (Galiza),
Diário da República,
Escolas,
O Despertar (Coimbra),
Jogos Santa Casa,
RTP,
SIC,
TVI,
CAE – Centro de Artes e Espetáculos – Figueira da Foz,
Calzedonia,
Canal Odisseia,
Clube de Ténis de Coimbra,
Câmara Municipal de Abrantes,
Câmara Municipal de Águeda,
Câmara Municipal de Alcobaça,
Câmara Municipal de Alcoutim,
Câmara Municipal de Alenquer,
Câmara Municipal de Alfândega da Fé,
Câmara Municipal de Aljustrel,
Câmara Municipal de Almada,
Câmara Municipal de Almeirim,
Câmara Municipal da Amadora,
Câmara Municipal de Amarante,
Câmara Municipal de Anadia,
Câmara Municipal de Ansião,
Câmara Municipal de Armamar,
Câmara Municipal de Arouca,
Câmara Municipal de Arraiolos,
Câmara Municipal de Arruda dos Vinhos,
Câmara Municipal de Aveiro,
Câmara Municipal de Barcelos,
Câmara Municipal do Barreiro,
Câmara Municipal de Beja,
Câmara Municipal de Braga,
Câmara Municipal de Cabeceiras de Basto,
Câmara Municipal do Cadaval,
Câmara Municipal da Calheta (Açores),
Câmara Municipal de Câmara de Lobos (Madeira),
Câmara Municipal de Caminha,
Câmara Municipal de Cantanhede,
Câmara Municipal de Carregal do Sal,
Câmara Municipal do Cartaxo,
Câmara Municipal de Cascais,
Câmara Municipal de Castelo Branco,
Câmara Municipal de Castelo de Vide,
Câmara Municipal de Celorico de Basto,
Câmara Municipal de Coimbra,
Câmara Municipal de Constância,
Câmara Municipal do Entroncamento,
Câmara Municipal de Espinho,
Câmara Municipal de Estremoz,
Câmara Municipal de Évora,
Câmara Municipal de Fafe,
Câmara Municipal de Faro,
Câmara Municipal de Felgueiras,
Câmara Municipal de Ferreira do Zêzere,
Câmara Municipal da Figueira da Foz,
Câmara Municipal do Funchal,
Câmara Municipal de Gondomar,
Câmara Municipal da Guarda,
Câmara Municipal de Guimarães,
Câmara Municipal da Horta (Açores),
Câmara Municipal de Lagoa (Açores),
Câmara Municipal de Lagos,
Câmara Municipal de Lamego,
Câmara Municipal de Lisboa,
Câmara Municipal de Loures,
Câmara Municipal da Lousã,
Câmara Municipal de Mangualde,
Câmara Municipal da Marinha Grande,
Câmara Municipal de Matosinhos,
Câmara Municipal da Mealhada,
Câmara Municipal de Monção,
Câmara Municipal de Montalegre,
Câmara Municipal de Mortágua,
Câmara Municipal de Murça,
Câmara Municipal da Nazaré,
Câmara Municipal de Nisa,
Câmara Municipal de Odemira,
Câmara Municipal de Odivelas,
Câmara Municipal de Olhão,
Câmara Municipal de Ovar,
Câmara Municipal de Paços de Ferreira,
Câmara Municipal de Palmela,
Câmara Municipal de Pampilhosa da Serra,
Câmara Municipal de Penacova,
Câmara Municipal de Peniche,
Câmara Municipal de Peso da Régua,
Câmara Municipal de Pinhel,
Câmara Municipal de Ponta Delgada (Açores),
Câmara Municipal de Portimão,
Câmara Municipal do Porto,
Câmara Municipal de Reguengos de Monsaraz,
Câmara Municipal de Resende,
Câmara Municipal de Rio Maior,
Câmara Municipal de Santa Cruz (Madeira),
Câmara Municipal de Sardoal,
Câmara Municipal de Sátão,
Câmara Municipal de Seia,
Câmara Municipal do Seixal,
Câmara Municipal de Serpa,
Câmara Municipal da Sertã,
Câmara Municipal de Sesimbra,
Câmara Municipal de Setúbal ,
Câmara Municipal de Silves,
Câmara Municipal de Tavira,
Câmara Municipal de Tondela,
Câmara Municipal de Torres Vedras,
Câmara Municipal de Vagos,
Câmara Municipal de Valença,
Câmara Municipal de Valongo,
Câmara Municipal de Vendas Novas,
Câmara Municipal de Vila do Bispo,
Câmara Municipal de Vila do Porto (Açores),
Câmara Municipal de Vila Franca de Xira,
Câmara Municipal de Vila Pouca de Aguiar,
Câmara Municipal de Viseu,
Câmara Municipal de Vizela,
Câmara Municipal de Vouzela,
Canal Discovery (TV),
Canal História (TV),
Cáritas Diocesana de Coimbra,
Cáritas Portuguesa,
Carros,
Casa das Letras Editora,
Casino da Figueira, 
Castelo de Vide InformAÇÃO,
Catálogo IKEA,
Catálogo Yves Rocher,
Centro Cirúrgico de Coimbra,
Centro Cultural de Belém - CCB,
Centro Cultural de Cascais,
Centro Cultural de Ílhavo,
Centro Cultural Palácio do Egipto - Oeiras,
Centro Cultural Vila Flor – Guimarães,
Centro de Formação Gaia Nascente,
Cerveja Sagres,
Cerveja Superbock,
CHUC - Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra,
CIP – Confederação Empresarial de Portugal,
Clínica Cirúrgica de Coimbra,
CNC – Centro Nacional de Cultura,
CHUC - Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra,
CIP – Confederação Empresarial de Portugal,
Círculo de Leitores,
CoimbraShopping,
Comércio do Seixal e Sesimbra,
Comissão Europeia,
Conservatório Regional de Coimbra,
Continente,
Correio da Beira Serra (Oliveira do Hospital),
Correio da Manhã,
Correio da Trofa,
Correio de Azemeis,
Courrier internacional,
Cosmopolitan,
CTT - Correios de Portugal,
Decathlon,
Destak,
Diário Atual,
Diário Digital,
Diário de Notícias,
Diário de Trás-os-Montes,
Diário do Alentejo (Beja),
Diário Insular,
Diário do Minho (Braga,)
DiariOnline,
Dica da Semana (LIDL),
Dinheiro Vivo,
Direção-Geral da Administração Escolar
Direção-Geral da Administração da Justiça 
Direção-Geral das Artes,
Direção-Geral de Alimentação e Veterinária,
Direção-Geral de Arquivos,
Direção-Geral da Educação,
Direção-Geral de Estabelecimentos Escolares,
Direção-Geral do Orçamento,
Direção-Geral do Património Cultural,
Direção-Geral da Política do Mar 
Direção-Geral da Saúde,
Direção-Geral do Território,
Direção Regional de Cultura do Centro,
Disney COMIX,
Down Town, restaurants & Co.,
DREC - Direção Regional de Educação do Centro,
DREN – Direção Regional de Educação do Norte,
Editorial ASA,
Editorial Caminho,
Editora Areal,
Editorial Sextante,
EDP Comercial,
Editorial Presença,
Editorial Saída de Emergência,
Editorial Sebenta,
EFAPEL,
Elle,
EMAF,
EPUL,
ERA,
ERC - Entidade Reguladora para a Comunicação Social,
Escolas do Ensino Básico,
Escola Superior de Enfermagem de Coimbra,
Escola Superior de Enfermagem de Lisboa,
Escola Superior de Enfermagem do Porto,
Esperança Salvar,
Estradas de Portugal 
Euronews,
Evasões,
EXAME informática,
Exploratório (Coimbra),
Expresso,
Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa,
FENPROF,
FPF 360,
Flickr,
FM Group,
FNAC,
Folha do Domingo,
Foz Plaza (Figueira da Foz),
FOX - canais TV,
Fundação ADFP - Miranda do Corvo,
Fundação Calouste Gulbenkian,
Fundação da Mata do Buçaco,
Fundação José Saramago,
Fundação Portuguesa de Cardiologia,
Fundação Serralves,
Gadget e PC (revista ),
Gailivro Editora,
GAT - Grupo Português de Ativistas sobre Tratamento de VIH/sida,
Gineco - Serviços Médicos de Imagem, S. A. (Porto),
Google,
GQ,
Grande Loja Legal de Portugal-GLRP
Greca, Artes Gráficas,
Grupeme,
Grupo de Capoeira Farol da Ilha - Coimbra 
Grupo Mota ENGIL
Grupo Musical Santa Cruz (Música Popular Portuguesa) - Póvoa de Varzim
Grupo SoftReis,
Guimarãse Arte e Cultura,
Hospital Veterinário Universitário de Coimbra,
Hotel da Música (Porto),
House Trends (Revista),
Idealmed (Coimbra),
Ideias de Ler Editora,
iMed,
ILTEC - Instituto de Linguística Teórica e Computacional
Imo,
Imperdível - Loja galego-portuguesa (Galiza)
IMTT – Instituto da Mobilidade e dos Transportes Terrestres,
INCM - Imprensa Nacional Casa da Moeda,
Independente de Cantanhede,
INFARMED,
InfoCaixa (Caixa Geral de Depósitos),
Inspeção-Geral da Educação 
Instituto Nacional de Aviação Civil,
INML – Instituto Nacional de Medicina Legal,
INSA - Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge,
iPorto – Agenda Metropolitana da Cultura
Instituo Politécnico de Coimbra
Instituto Superior Bissaya Barreto – Coimbra,
Instituto Superior Miguel Torga – Coimbra,
Interiores (revista),
J. C. Decaux,
Jornal da Bairrada,
JL - Jornal de Letras Artes e Ideias,
Jornal Açores 9,
Jornal das Caldas,
Jornal das Oficinas,
Jornal de Estremoz, 
Jornal de Notícias,
Jornal do Algarve,
Jornal do Centro (impresso),
Jornal do Fundão,
Jornal Médico,
jornal O Ponto (Vagos),
Jornal dos Profissionais de Cabeleireiro,
Joshua´s Shoarma Grill,
Jumbo,
KidZania,
La Redoute, 
Leiria Económica,
Leroy-Merlin,
LeyaBIS – Livros de Bolso,
Lidador notícias,
LIDEL,
Lidl,
Lilly,
Lions Clubs International - Distrito Múltiplo 115 Portugal,
Livraria Bertrand,
Livraria L.E.R. – Coimbra,
Lux,
MaisEducativa,
Mais Futebol,
Maria (revista),
McDonald's,
Médicos do Centro - revista da Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos,
Mensageiro de Bragança,
Men''s Health,
MEO,
Metro,
Millennium BCP,
Mister Bob,
Moda Noiva/Moda Noivo,
Moncorvo Notícias,
Montepio,
Montes e Vales,
MultiÓpticas,
Mundo Português,
Município de Monção - Agenda Cultural,
Museu da Ciência – Universidade de Coimbra,
Museu da Eletricidade (Fundação EDP),
Museu Interativo (Fátima),
Museu Machado de Castro (Coimbra),
MyMedicineOne,
National Geographic (Canal TV),
Nestlé,
Netfarma - portal dos profissionais do setor farmacêutico,
NewsBBC Portugal
Nintendo,
Norauto,
Notícias ao Minuto,
Notícias de Coimbra,
Notícias do Centro,
Nova Cozinha Tradicional,
Novo Banco,
NOVOTECNA - Associação para o Desenvolvimento Tecnológico,
OA - Boletim da Ordem dos Advogados,
Observador,
O Conquistador,
O Despertar,
O Gesto – Revista semestral institucional da Santa Casa da Misericórdia de Galizes,
O Interior,
Oje,
O Jogo,
Olhares - Revista do Centro Cirúrgico de Coimbra,
O Notícias da Trofa,
O Portomosense,
Optivisão,
Ordem dos Engenheiros,
O Teatrão - Oficina Municipal de Teatro – Coimbra,
Paixão pelo Vinho (Revista),
Parques de Sintra - Monte da Lua SA,
Parques e Vida Selvagem,
Patriarcado de Lisboa,
Perfumes & Co,
PGL - Portal Galego da Língua (Galiza)
Plátano Editora,
portal médico Univadis - serviço MSD,
Portal Net Madeira,
Portfolio da Volvo,
Porto Canal,
Porto Editora,
Porto 24,
Portugal Telecom,
Presidência da República,
Programa Nacional para a Infeção VIH/Sida,
publicidade da Mercedes Benz,
Qualidade & Inovação,
QuatroQuatroDois (revista),
Quero Saber (revista)
Quetzal Editora,
quinzenário Trevim (Lousã),
Rádio Campanário,
Rádio Elvas,
Rádio Popular,
Real Associação de Lisboa,
Raiz Editora,
Reconquista,
Record,
Rede Globo Portugal,
Região Bairradina (quinzenário),
Revista ACP,
Revista BUSINESS Portugal,
Revista Crítica de Ciências Sociais,
Revista CX – Caixa Geral de Depósitos,
Revista do Exército,
Revista dos Pneus,
Revista EMPIRE – versão portuguesa,
Revista Interações- ISMT – Coimbra,
Revista Lusófona de Educação,
Revista LUX,
Revista LuxWOMAN,
Revista Mulher,
revista Nexpresso,
Revista Nova GENTE,
revista Pais & Filhos,
revista Panda (Canal Panda),
revista Super Bebés,
Sabor e Inspiração (MAKRO),
Santa Casa da Misericórdia de Anadia,
Santa Casa da Misericórdia de Faro,
Santa Casa da Misericórdia de Galizes,
Santa Casa da Misericórdia de Lisboa,
São João da Madeira - Boletim municipal 
Sapo, 
SEAT,
Sindicato dos Professores do Norte,
Sociedade Portuguesa de Senologia,
Sol,
SONAE,
Sony,
Sport Life,
Sport TV 
Sport Zone,
SRIJ - Serviço de Regulação e Inspeção de Jogos,
Staples,
Stratosphere (revista),
Sul- Informação,
SUPERinteressante,
TAGV - Teatro Académico Gil Vicente - Coimbra,
TAP Air Portugal,
Teleculinária (revista),
Texto Editora,
Timberland,
Tinta Fresca - Jornal de arte, cultura e cidadania,
TLC Canal (TV),
Toyota Caetano Portugal,
Transdev,
Tribuna Alentejo,
Tribunal Constitucional, 
TSF,
Turbo,
Turismo de Portugal,
TV Mais,
TV do Minho,
TV 7 dias,
Uncanny - Revista de Filosofia e Estudos Culturais,
Universidade Aberta,
Universidade do Algarve,
Universidade de Aveiro,
Universidade da Beira Interior (Covilhã),
Universidade Católica Portuguesa,
Universidade de Coimbra,
Universidade de Lisboa,
Universidade da Madeira,
Universidade do Porto,
Universidade Lusófona,
Universidade Portucalense,
UTAD – Universidade de Trás os Montes e Alto Douro,
Victoria Seguros,
Vida Económica,
VIP,
Visão,
Viseu - revista municipal,
Viver Azeméis – Agenda Cultural,
Vodafone,
Vogue (revista),
Voz das Misericórdias,
Windows 10,
Zeótica (Coimbra),
Zoom - fotografia prática (revista)



e os Blogues, Páginas e Grupos :

- ACEGIS
- Acordo Ortográfico: o que muda?
- A Estátua de Sal
- À Falta de Melhor
- A Favor do Acordo Ortográfico
- AICL - Associação Internacional dos Colóquios da Lusofonia
- A Lâmpada Mágica
- Alentejo em Linha
- Aleteia
- Alpendre da Lua
- A Partir Pedra
- Aqui e Agora
- As Faces da FLUC, Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra
- ASJP (Associação Sindical dos Juízes Portugueses)
- As Minhas Leituras
- Aspirina B
- Assesta - Associação de Escritores do Alentejo
- A Terceira Noite
- Aventar
- Babel - livros do mundo
- Blogue do IILP,
- Boas Notícias - um mundo em crescimento
- Canal Superior
- Casa Agostinho da Silva
- Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
- Círculo Edições (Gz.)
- Crónicas do Professor Ferrão
- Dádivas
- De Cá e de Lá
- Democracia das Falácias
- Desperta do Teu Sono (Gz.)
- Diário Agrário - Agronotícias Portugal
- Dispersamente...
- Do Alto da Minha Gávea
- Do Brasil e de Portugal
- D'Silvas Filho
- Duas ou Três Coisas
- Em Letra Miúda
- Em Português Grande
- Escola Secundária da Ramada
- Escrever é Triste
- Escritas e Falares da Nossa Língua
- Esquerda.Net
- Eu Acuso.
- Eu Sou a Favor do Novo AO da Língua Portuguesa,
- Eventos e Espetáculos
- Glossário Toponímico - Galiza, Portugal e Brasil
- Gota de Água
- História Dentro
- ILoveAlfama
- Inclusão e Cidadania
- In Dancing Shoes - tudo sobre dança em Portugal
- inÉPCIA
- Jornal de Coimbra
- Jornal do Centro (online)
- Jugular
- Koroshiya Itchi
- Lavandaria
- Letras e Conteúdos
- Louzanimales
- Lusofonia
- Maria Capaz
- Mente Livre
- MEO Blogue
- Morangueiro
- MoimentaNaNet
- Muro das Lamentações
- Museu da Ciência da Universidade de Coimbra
- Net emprego
- Nós na Rede
- Notas de Circunstância 2
- O Cérebro da Política - Joana Amaral Dias
- O Economista Português
- Ola Biblioteca
- O Meu Olhar (sobre Guimarães)
- O País do Burro
- O Palhetas na Foz
- Os Bichos
- O Último Padrinho
- OutrasPalavras
- Página Global
- Ponte Europa
- Porta-Livros
- Porto.
- Portugal Faz-lhe Bem
- Quadro Preto Riscado a Giz
- Quintus
- Rabanadas de Escrita
- Risco Contínuo
- Sara Liquid Projects
- SIC Blogue
- Somos pela Implementação Urgente da Reforma Ortográfica em Portugal
- Teatro Passagem de Nível
- Terra Imunda
- Testemunhocular
- Toponímia Galego-Portuguesa e Brasileira
- Travessa do Fala-Só
- 365 forte
- Tribuna Alentejo
- 31 da Armada
- tudo em minúsculas
- Ventos da Lusofonia
- Ventos Semeados
- Viagem das Letras
- ZAP.aeiou



(Lista em atualização. Não estão incluidas as [muitas] câmaras municipais, organismos públicos e privados, empresas e sindicatos e centrais sindicais e patronais que se encontram em período de transição e que, portanto, praticam as duas ortografias em 2013).

Coimbra, 27 de fevereiro de 2013

José Cunha-Oliveira
Médico